sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Abordagens psicoterápicas são destaque em Montes Claros


As atividades do IV Psicologia nas Gerais agitaram Montes Claros entre os dias 24 e 29 de agosto. Palestras, mini-cursos, oficinas, encontros, sessão comentada de cinema e mesas-redondas marcaram as comemorações da semana do psicólogo. O evento foi organizado pelo Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais (CRP-MG), em parceria com as Faculdades Integradas Pitágoras (FIP-MOC), a Faculdade de Saúde Ibituruna (FASI) e as Faculdades Unidas do Norte de Minas (Funorte).

No dia 27 ocorreu a mesa-redonda “Intervenções Contemporâneas em Psicoterapia”, atraindo dezenas de interessados, entre profissionais, estudantes e professores. O evento foi realizado no Auditório das FIP-MOC

O primeiro debatedor foi o psicólogo Achilles Coelho Júnior, professor das FIP-MOC e da Funorte, que abordou a perspectiva existencial-fenomenológica. O método fenomenológico considera a coisa mesma, buscando compreender a sua essência. O professor discorreu sobre as diferentes perspectivas: a marxista (calcada nas relações sociais), a de Freud (inconsciente e razão), a de Saussure (língua como produto social), a de Foucault (o poder disciplinar) e o movimento feminista (uma nova forma de viver a sexualidade). Também foram abordados os principais problemas subjetivos contemporâneos: a perda da unidade psicológica (racionalização excessiva com esvaziamento afetivo da existência); a perda do sentido da vida (tédio e “anestesia emocional”); a transformação da intimidade (interesse pela particularidade alheia); e a falta de poder pessoal (vitimização social, impotência para transformar a realidade). Para ajudar a tratar destes problemas, em boa medida agravados pela interferência da mídia na formação de valores, a psicoterapia existencial-fenomenológica apresenta como caminhos a auto-compreensão, a auto-consciência, a auto-determinação e a procura do sentido.


A psicóloga Ângela Nicácio Tolentino, professora das FIP-MOC, apresentou a perspectiva sistêmica da Psicoterapia, que deixa de ser intrapsíquica e passa a ser inter-relacional, analisando a interdependência entre o indivíduo e sua família. As principais disfunções verificadas na estrutura familiar são a dificuldade em se lidar com as mudanças inerentes aos ciclos de vida (infância, adolescência, maturidade, velhice), os vínculos familiares rígidos, a superproteção e a falta de conscientização e solução de conflitos. Com isso, nos chegam os sintomas de nossa contemporaneidade: a ansiedade, o pânico, os transtornos alimentares e as várias formas de violência. A terapia familiar trabalha com a alteração dos padrões de funcionamento e de comunicação, promovendo a autonomia dos membros da família.

A terceira debatedora foi a psicanalista Teresa Viegas Tameirão, professora das FIP-MOC, discorrendo sobre a perspectiva psicanalítica, fundada no século XX pelo médico Sigmund Freud. Sua principal contribuição foi a descoberta do inconsciente, montado por aquilo que experienciamos, rompendo com o pensamento cartesiano “faço porque quero”. A Psicanálise rejeita a generalização, analisando o que há de único em cada caso, levando o paciente a livrar-se de sua angústia a partir da reconstrução de sua história e seu inconsciente. Não há resposta-modelo, mas atos grandes e pequenos, dentro de sua singularidade e não de uma norma estabelecida.

O sujeito contemporâneo, dentro da sociedade capitalista consumista, não busca seus ideais para sair de sua angústia. Ele está diante de questões e atitudes que ele faz por não saber fazer diferente, com isso o vazio se instaura e o sujeito não vê possibilidade de saída. É mais importante ser entendido do que ser explicado.

Encerrando as exposições, a psicóloga Vívica Lé Sénéchal Machado, professora das FIP-MOC, abordou a perspectiva comportamental da Psicoterapia. A professora iniciou sua apresentação esclarecendo sobre as teorias do psicólogo estadunidense Burrhus Frederic Skinner, considerado o pai da análise do comportamento. Segundo Skinner, o aspecto central da concepção de homem é enquanto um ser relacional com o ambiente. O sujeito age e sente como produto de sua contínua e particular inter-relação com o ambiente. Tal relação não é estática e não supõe uma causalidade mecânica, a cada relação, obtém-se como produto um ambiente e um homem diferentes. O homem constrói o mundo a sua volta e se constrói, transforma e é transformado, modifica e é modificado pelas consequências de suas ações.

Ao contrário do que pregam alguns, a professora Machado afirmou que Skinner não desconsiderou os eventos internos (sentimentos e pensamentos), a compreensão da subjetividade deve passar diretamente pela compreensão da relação entre indivíduo e cultura e das práticas sociais como um todo. São considerados os níveis ontogenético, filogenético e cultural, levando-se em conta a seleção e variação entre eles.

A terapia analítico-comportamental busca identificar e analisar funcionalmente variáveis ambientais que estejam influenciando os comportamentos do cliente, a fim de modificá-los quando desejado. As três fases da terapia são auto-observação, autoconhecimento e mudança. “Explorar potencialidades e identificar qualidades também são funções do terapeuta, não apenas amenizar o sofrimento psicológico”, afirmou a debatedora, “a terapia lida com os efeitos indesejáveis gerados pelas agências sociais controladoras, como a família, o governo, a religião, a mídia e outras”, concluiu.

Questionado sobre qual a melhor perspectiva, o professor Achilles Júnior afirmou que “não existe abordagem mais adequada, existe terapeuta mais adequado para cada tipo de cliente, a partir de uma avaliação ética. Não podemos reduzir nem a abordagem nem a pessoa”. “O tempo todo fazemos escolhas. Estudar, estágios, enfim, é importante conhecer um pouco de cada perspectiva e fazer a sua escolha”, respondeu a professora Vívica Machado.


Para o estudante do 1º período de Psicologia das FIP-MOC, Jorge Acbas, “o debate foi interessante por mostrar os diferentes segmentos da Psicoterapia, os vários tipos de abordagem, as técnicas utilizadas, esclarecendo os presentes e auxiliando-nos em nossas futuras escolhas”. “O Psicologia nas Gerais é uma iniciativa bastante válida e cumpre um papel importantíssimo na valorização da Psicologia e dos psicólogos” afirmou.


Texto e fotos: Ramon Fonseca


A Estrada vai além do que se vê!

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