quarta-feira, 23 de março de 2011

A construção do Homem no jovem Marx (parte 7)


Por Augusto Buonicore

Marx e os Manuscritos Econômicos e Filosóficos

Nos Manuscritos Econômicos e Filosóficos, escrito em 1844, o humanismo de Marx adquire maior consistência. Não se trata mais aqui da defesa de um homem em geral, abstrato, mas de um homem concreto, histórico. Era um humanismo sob novo ponto de vista, o ponto de vista do proletariado revolucionário.

Nesse trabalho o autor critica os economistas burgueses, que consideravam os homens apenas enquanto produziam para o Capital. Reduziam o proletariado àquele que "sem capital nem renda da terra vivia puramente do trabalho e do trabalho unilateral, abstrato, apenas como operário". Assim puderam estabelecer "o princípio pelo qual, como qualquer cavalo, ele tem que ganhar o suficiente para poder trabalhar. Não considerava-o no tempo em que não trabalhava, ou seja, como homem. Assim, "os mendigos, os desempregados, os trabalhadores famintos, indigentes, criminosos, eram figuras que não existiam para a economia política, mas apenas para os olhos dos médicos, juízes, coveiros e burocratas”. As necessidades dos trabalhadores "se reduziriam às necessidades de mantê-los diariamente no trabalho, de molde a não extinguir a raça dos trabalhadores". Os salários teriam "o mesmo significado da manutenção de qualquer outro instrumento de produção (...) É o óleo aplicado à mola para conservá-la rodando". O homem se transformava numa peça de engrenagem e a sociedade numa grande fábrica.

Marx submeteu assim o capitalismo a uma crítica feroz, de um ponto de vista revolucionário. Foi uma das críticas mais radicais escritas até então. Denunciou a desumanização do homem e sua transformação em simples mercadoria. Denunciou o processo de alienação – não apenas religiosa e política, mas fundamentalmente a alienação que teria por centro o próprio trabalho humano. Definiu o trabalho alienado como fundamento do homem alienado.

No capitalismo, afirmava Marx, "a produção não apenas produz o homem como mercadoria humana (...) produz o homem como um ser mental e fisicamente desumanizado. Imoralidade, aborto, escravidão do trabalho". E prosseguia: "A partir do momento em que a humanidade se compõe principalmente de trabalhadores, dos quais deserdados são os proletários, o humanismo real que se preocupa com os interesses de cada homem é aquele que defende os interesses proletários."

Na sociedade capitalista os operários eram as maiores vítimas da guerra sem quartel da concorrência pelos mercados. O operário, segundo Marx, não ganhava necessariamente quando o capitalista ganhava, mas perdia necessariamente quando ele perdia. "Se a riqueza da sociedade declina”, afirmou, “é o operário quem mais sofre; mas se a riqueza progride, essa é a situação mais favorável para os operários, mas significa para eles também um trabalho extenuante, que abreviará sua existência".

A economia política burguesa era, por sua vez, extremamente moralista – pelo menos quanto à classe operária. Segundo o jovem Marx, "sua tese principal era a renúncia à vida e às necessidades humanas. Quanto menos se comer, beber, comprar livros, ir ao teatro ou bares, ou botequim, e quanto menos se pensar, amar, doutrinar, cantar, pintar, esgrimir etc. tanto mais se poderia economizar (...) Tudo o que o economista tirava sob a forma de vida e humanidade devolvia sob forma de dinheiro. (...) O trabalho deve ser apenas o que lhe é necessário para desejar viver, e deve desejar viver para ter isso".

Em contraposição à moralidade burguesa começava a surgir uma nova moralidade: "Quando artesãos comunistas formam associações, o ensino e a propaganda são seus primeiros objetivos. Mas sua própria associação engendra uma necessidade nova – a necessidade da sociedade –, o que é um meio torna-se um fim (...) Fumar, comer e beber não são mais meios de congregar pessoas. A sociedade, a associação, o divertimento tendo também como fito a sociedade é suficiente para eles, a fraternidade do homem não é a frase vazia, mas uma realidade e a pobreza do homem resplandece sobre nós vindo de seus corpos fatigados."

A desalienação humana passa pela superação da exploração assalariada

Já no seu 1º manuscrito Marx passa a estender o conceito de alienação do campo da política para o campo da economia, estudando particularmente a alienação do trabalho. No capitalismo o trabalho é exterior ao operário, não pertence à sua essência. No seu trabalho o operário não se afirma, mas, ao contrário, se nega. Não se sente bem, mas infeliz. Não desenvolve nenhuma energia física e espiritual, mas mortifica o corpo e arruina o espírito. O operário, portanto, só se sente bem consigo mesmo fora do trabalho, pois no trabalho sente-se fora de si.

No capitalismo o trabalho é forçado, imposto de fora. Não representa a satisfação de uma necessidade do trabalhador, mas apenas um meio de receber um salário, um simples meio de atender outra necessidade. Todo trabalho do operário volta-se contra ele, como uma força estranha e hostil. O operário, ao produzir mercadorias, produzia também sua própria alienação.

Escreveu Marx: "O trabalhador fica mais pobre à medida em que produz mais riquezas e sua produção cresce em força e extensão. O trabalhador torna-se uma mercadoria ainda mais barata à medida que cria mais bens (...) quanto mais trabalhadores se desgastem no trabalho tanto mais poderoso se torna o mundo dos objetos por ele criado em face dele mesmo, tanto mais simples se torna a vida interior, e tanto menos ele se pertence a si próprio (...) O trabalhador pôs a sua vida no objeto, e sua vida, então, não mais lhe pertence, porém ao objeto.” Concluía ele que, se o produto do trabalho não pertencia ao operário, isso só era possível porque pertencia a outrem, o capitalista.

Marx descobriu assim um dos fundamentos da alienação humana no capitalismo: a apropriação do produto do trabalho pelo não-operário (proprietário dos meios de produção), fato que acarreta uma dominação real daquele que produz por aquele que não produz. A alienação do produto do trabalho exprimia-se na hostilidade entre o operário e o não-operário.

Essa concepção está na raiz da crítica de Marx a certas correntes socialistas, que buscavam eliminar a condição de proletário através de um aumento de salários, escondendo-se sob a palavra de ordem dos "salários justos". Escreveu Marx: "Uma elevação do salário pela força (...) nada mais seria que um melhor assalariado dos escravos e não uma conquista para o operário, nem para o trabalho, o seu destino humano." O salário seria conseqüência do trabalho alienado e "aquele que se erguia contra a propriedade privada devia reclamar a anulação do trabalho alienado, e, portanto, do salariato, como a situação na qual o trabalho não era um fim em si, mas um servidor do salário".

O Homem e a sociedade

Marx já nesse período tinha clareza da unidade dialética que se forjava entre o homem e a sociedade. Nele já não vemos nada que se assemelhe ao determinismo econômico, que alguns teimam em lhe impingir. A sociedade e as condições históricas produziam os homens concretos, mas ao mesmo tempo estes não eram meros produtos sem vontade, e sim agentes ativos que com sua ação consciente eram capazes de mudar as condições que lhes deram origem. Afirmava ele: "Da mesma forma que a sociedade produz o homem, também ela era produzida por ele." E seguia em seu raciocínio afirmando que "embora o homem seja um indivíduo único (...) ele é igualmente o todo, o todo ideal, a existência subjetiva da sociedade como é pensada e vivenciada. Ele existe (...) como a soma das manifestações humanas da vida".

O homem, portanto, não pode ser entendido como o Robson Crusoé do pensamento liberal. Ele só pode ser concebido como parte integrante do mundo dos homens, a sociedade. Cada indivíduo era portador do conjunto dessas relações (homem/homem, homem/natureza). O homem (individual/real) só pode ser entendido na coletividade dos homens. Podemos notar ainda neste trabalho uma grande influência das ideias de Feuerbach e de seu humanismo, de sua “essência humana” em geral. Mas, no Marx dos Manuscritos, essas ideias já se encontravam em transição e tenderiam a desaparecer na obras seguintes, em especial na Ideologia Alemã de 1845.

Todo o mundo para o homem, inclusive os seus sentidos, eram fruto da ação dos próprios homens – através do trabalho humano – e "mesmo as formas de relação do homem com o mundo, o ver, ouvir, cheirar, saborear (...) amar, ou seja, tudo o que é possível captar e transmitir através dos órgãos de nossa individualidade são produtos de anos de trabalho social humano".

"È evidente”, continuava ele, “que o olho humano aprecia as coisas de maneira diferente da do olho bruto, não humano, assim como o ouvido humano difere do ouvido bruto, e só quando o objeto se torna um objeto humano (...) o homem não fica perdido nele. Isso somente é possível quando o objeto se torna um objeto social e quando ele próprio se torna um ser social". Mas todas essas formas de apreensão humana do mundo, através dos sentidos, encontram-se em nossa sociedade limitadas em sua potencialidade pela existência da propriedade da privada e pela exploração do trabalho.

A propriedade privada, segundo Marx, "tornou-nos néscios e parciais a ponto de um objeto só ser considerado nosso quando é diretamente comido, bebido, vestido, habitado etc, em resumo quando utilizado de alguma forma (...) Todos os sentidos físicos e intelectuais foram substituídos pela simples alienação de todos eles, pelo sentido do ter".

A sociedade capitalista tem no dinheiro uma forma particular de alienação da essência humana em geral, a qual inverte o sentido da realidade. A propriedade do dinheiro passa a ser também de quem o possui: "Sou feio, mas posso comprar a mais bela mulher e conseqüentemente não sou feio (...) Sou estúpido, mas o dinheiro é o verdadeiro cérebro de todas as coisas e, sendo assim, como poderá este seu possuidor ser estúpido?" O dinheiro, para Marx, "converte o amor em ódio (...), o servo em senhor (...), a estupidez em inteligência (...) Quem pode comprar a bravura é bravo, malgrado seja covarde".

Contrapondo-se ao mundo do dinheiro, Marx pregava uma nova sociedade em que "o homem fosse Homem e em que a relação com o mundo fosse humana, aonde o amor só pudesse ser trocado por amor (...) Se desejar apreender a arte, será preciso apenas ser uma pessoa autenticamente educada". Mas para realizar tal mundo é preciso, antes de mais nada, abolir a propriedade privada. Esse seria o primeiro passo para a “apropriação da verdade humana (...) e a substituição positiva de toda a alienação, o retorno do homem da religião, do Estado, para a vida realmente social”.

O comunismo, assim, seria para Marx a abolição da propriedade privada e o fim da alienação humana. Ele seria a "verdadeira apropriação da natureza humana através do e para o Homem (...) O retorno do Homem a si mesmo como ser social (...) O comunismo como naturalismo plenamente desenvolvido é humanismo (...) É a resolução do antagonismo entre Homem e natureza, entre homem e seu semelhante. É a verdadeira solução do conflito entre a existência e a essência (...) entre o indivíduo e a espécie".


(Continua na parte 8)

Leia as outras partes deste ensaio:
Parte 1
Parte 2
Parte 3
Parte 4
Parte 5
Parte 6

*Augusto Buonicore, historiador e mestre em Ciência Política pela Unicamp, é secretário-geral da Fundação Maurício Grabois e membro dos conselhos editoriais das revistas Princípios e Crítica Marxista. Este ensaio – cuja versão atual foi publicada originalmente em cinco partes na revista Juventude.br (números 1 a 5) – foi escrito há mais uma década e muitas das opiniões nele contidas não correspondem mais integralmente às posições do autor. A motivação principal de sua publicação é oferecer uma visão panorâmica da formação intelectual inicial de Marx, algo de grande utilidade especialmente para as jovens gerações de comunistas, que conhecem pouco a vida e a obra do fundador do socialismo científico. Ensaio publicado na página da Fundação Maurício Grabois.

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terça-feira, 22 de março de 2011

Ministro reafirma importância da agenda juvenil

O ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, participou, na última sexta-feira (18), do segundo dia de reunião do Conselho Nacional de Juventude (Conjuve). Desde o início do governo da presidenta Dilma Rouseff, este foi o primeiro encontro formal do ministro com os conselheiros, que estão reunidos em Brasília para definir as prioridades do colegiado em 2011. Apesar de reconhecer a necessidade de ações imediatas para os jovens em situação de risco, o ministro lembrou que a política nacional de juventude deve contemplar o segmento como um todo, incluindo os jovens de classe média e alta, que devem ser mobilizados para participar da vida política do país. "Precisamos convidar os jovens, chamá-los para a defesa de causas importantes, como o combate à miséria. E não me refiro apenas à miséria formal, mas também à miséria provocada pela falta de valores. Eu me orgulho de fazer parte de um governo que coloca esta causa como uma de suas principais bandeiras".

O ministro lembrou, ainda, que a juventude está na pauta prioritária da presidenta Dilma Rousseff, por meio do Fórum Direitos e Cidadania, definido como um dos quatro eixos de atuação do governo nos próximos quatros anos. Ele também destacou que a presidenta tem plena consciência da importância da sociedade civil na construção das políticas públicas, afirmando que ela dará continuidade à relação que foi construída no governo do ex-presidente Lula. "A presidenta manterá uma relação intensa, organizada e permanente com a sociedade civil. Ela não tem interesse em uma relação ocasional, para atender a demandas pontuais que chegam ao governo. O nosso objetivo é manter o diálogo permanente, trazendo os movimentos para discutir uma pauta que, sabemos, é extensa, difícil, e reflete a grande dívida social que o país acumulou ao longo de sua história". Gilberto aproveitou para reiterar que a juventude não pode ficar fora desse processo, devendo ocupar lugar de destaque na construção do projeto de governo.

Em relação à agenda do Conjuve este ano, o ministro afirmou que a segunda Conferência Nacional de Juventude, prevista para o próximo semestre, deve ser vista como um instrumento mobilizador, não como um fim. Ele informou sua intenção de participar das próximas reuniões do Conselho e afirmou que a escolha de Severine Macedo para a Secretaria Nacional de Juventude foi também uma forma de homenagear a juventude representativa das mulheres e do meio rural. A nova secretária, que deve tomar nesta semana, foi conselheira do Conjuve pela Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Fetagri).

Agenda 2011 - O presidente do Conselho, Gabriel Medina, destacou que além da Conferência Nacional de Políticas Públicas para a Juventude, a agenda de 2011 inclui, entre outras prioridades, a discussão do Plano Nacional de Juventude, da Política de Combate às Drogas, do Combate à Violência que atinge a juventude, sobretudo os jovens negros, da Agenda de Trabalho Decente para a Juventude, além da discussão do Plano Plurianual, com o objetivo de inserir a agenda juvenil nas metas do governo federal.

Da página da Secretaria-Geral da Presidência da República

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Montes Claros chora a morte de Konstantin Christoff


Montes Claros perdeu um dos seus filhos adotivos mais ilustres. Konstantin Christoff, benemérito médico-cirurgião geral (que por muitos anos serviu a Santa Casa), cirurgião plástico e artista plástico cuja obra tem alcance universal, faleceu nesta segunda-feira, 21, aos 88 anos, depois de meses internado, vitimado por um acidente vascular cerebral.

O prefeito Luiz Tadeu Leite decretou luto oficial no município por três dias; lamentou tão grande perda em nome de todos os montes-clarenses, manifestando suas condolências pessoais e da administração à família enlutada, e colocando à disposição o Centro Cultural Hermes de Paula, onde ocorreu o velório.

Nascido na Bulgária em 1923, Konstantin veio ainda menino para Montes Claros, em companhia de um irmão, o engenheiro Raio, que faleceu num acidente aéreo, o pai e a mãe. Era o último remanescente de uma turma de jovens que brilhou na vida social, política e cultural da cidade, como Darcy Ribeiro, Mário Ribeiro, João Vale Maurício, entre outros.


A história de vida de Konstantin funde-se à medicina de Montes Claros. Formou, na década de 40, com Haroldo Tourinho, Jason Teixeira, Luiz Quintino e Crisantino Borém o quadro clínico da Santa Casa, onde trabalhou ao lado de Irmã Beata, tida como santa por muitos montes-clarenses. Há mais de 20 anos dedicado às artes plástica, foi reconhecido nacional e internacionalmente. Deixa a viúva Yede Ribeiro Christoff e os filhos Raio e Igor. Andrey, arquiteto, faleceu a cerca de sete meses.

Do Portal Catrumano

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sexta-feira, 18 de março de 2011

Conjuve define prioridades para 2011

Conselho Nacional de Juventude define prioridades para 2011

O Conselho Nacional de Juventude (Conjuve) reune-se nesta quinta e sexta-feira (17 e 18) para debater um documento com considerações sobre as políticas de juventude de 2003 a 2010, além de definir as prioridades para 2011. O ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, participa da reunião na manhã de sexta-feira. À tarde, os conselheiros discutirão a 2ª Conferência Nacional de Políticas Públicas de Juventude, prevista para o segundo semestre deste ano.

A primeira Conferência, realizada em abril de 2008, mobilizou mais de 400 mil pessoas em todo o Brasil e resultou em um conjunto de prioridades e resoluções voltadas para as políticas de juventude em todas as esferas governamentais. A segunda Conferência visa garantir o caráter participativo dos jovens na agenda pública, além de avaliar os avanços obtidos e os desafios que vão integrar o próximo encontro. A organização da Conferência está a cargo da Secretaria Nacional de Juventude, vinculada à Secretaria-Geral, com a parceria de diversos ministérios.

Conjuve

Criado em 2005, o Conjuve é composto por 60 membros, sendo 20 do governo federal e 40 da sociedade civil. A representação do poder público contempla, além da Secretaria Nacional de Juventude, todos os ministérios que possuem programas voltados para a juventude, a Frente Parlamentar de Políticas para a Juventude da Câmara dos Deputados, o Fórum Nacional de Gestores Estaduais de Juventude e representantes das associações de prefeitos. Já a parcela da sociedade civil, que é maioria no colegiado, reflete a grande diversidade do segmento, contemplando os movimentos juvenis, organizações não-governamentais, especialistas e personalidades com reconhecido trabalho nessa área.

Do Portal Vermelho

Leia também: Pauta intensa marca primeira reunião do Conjuve em 2011

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Blitz da UEE e UCMG ocupa Assembleia Legislativa

O presidente da UCMG, Péricles Francisco, o diretor de combate ao racismo da UNE, Clédisson Geraldo dos Santos Junior e a presidente da UEE-MG, Luiza Adelaide Lafetá

A Comissão de Educação da Assembleia Legislativa de Minas Gerais foi ocupada, na manhã desta quarta-feira (16/3/11), por um grupo de estudantes que, a pedido do deputado Carlin Moura (PCdoB), apresentou sua pauta de reivindicações. A mobilização faz parte da Jornada de Lutas União Estadual dos Estudantes de Minas Gerais – UEE e da União Colegial de Minas Gerais - UCMG em 2011. Os representantes da classe estudantil pediram o apoio dos deputados para uma série de medidas governamentais, entre elas a criação de um Fundo Social do Minério para financiar a educação e o desenvolvimento social.

Para os estudantes, essa reivindicação é justa, na medida em que o Estado é o maior produtor nacional de minério, sendo responsável por nada menos que 70% da produção mundial de minério de ferro. Eles compararam os royalties do petróleo com a Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM), dizendo que, enquanto os Estados produtores de petróleo recebem 10% do faturamento bruto sobre a extração, Minas Gerais fica com 2% do faturamento líquido sobre a exploração mineral. “Só em royalties sobre o petróleo, a cidade de Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, fatura mais que o orçamento total de Contagem, sendo que ambos os municípios têm aproximadamente o mesmo número de habitantes”, afirmou a presidente da UEE, Luiza Lafetá.

De acordo com Luiza, a Blitz na ALMG foi o lançamento da Campanha pelo Fundo Social do Minério. Ela avalia positivamente a campanha, pois o mote tem sido recebido bem por todos deputados, seja eles de oposição ou do governo. “O próximo passo agora é fazer uma audiência conjunta entre a Comissão de Participação Popular e Comissão de Educação, para apresentar a comunidade a Campanha e fazer com que a ALMG assuma essa luta”, conclui.

A Blitz pecorreu todos os corredores da ALMG colhendo apoio dos deputados cerca de 46 deputados dialogaram com a entidade e garantiram total defesa da bandeira. O proximo passo será a passeata de rua do dia 23 de março q culminará também na porta da ALMG. A jornada se junta com as diversas ações em defesa da educação da União Nacional dos Estudantes (UNE) e da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES).

Luiza Lafetá integra o Movimento Transformar o Sonho em Realidade em Minas Gerais.

Da página da UJS

Foto: Alair Vieira (ALMG)

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quinta-feira, 17 de março de 2011

A construção do Homem no jovem Marx (parte 6)


Por Augusto Buonicore

Numa palavra: não podem abolir a filosofia sem realizá-la... o “partido teórico” tem na filosofia o seu ponto de partida, o seu complemento ideológico... Marx, portanto, apresentou um novo caminho que passava necessariamente pela unidade entre a teoria e a prática. Indubitavelmente, escreveu, a arma da crítica não podia substituir a crítica das armas, até porque potência material só pode ser abatida por potência material, ainda que também a teoria possa se transformar em potência material na medida em que se apodere das massas.

Marx descobre o proletariado revolucionário

A França em 1843 era a capital da revolução europeia. Por isso ali se agitavam as principais correntes do pensamento moderno. Entre elas desenvolviam-se as jovens correntes comunistas, com as quais Marx tomaria contato. Multiplicavam-se também organizações de operários revolucionários, em geral clandestinas, sendo uma das mais importantes a Liga dos Justos. É através dela que o jovem Marx entraria em contato com a jovem classe operária europeia.

Foi nesse ambiente que ele escreveu o seu artigo-ensaio Introdução à Crítica da Filosofia do Direito. Esse texto representaria um marco importante no processo de transição do jovem Marx para o Marx maduro das obras clássicas, pois é através dele que, pela primeira vez, aparece a figura do proletário com um papel definido no processo de emancipação humana. Na Introdução Marx buscou, também, estabelecer a justa relação entre a filosofia radical (a arma da crítica) e a práxis revolucionária (a crítica das armas).

Antes de mais nada, ele buscou definir o rumo geral do movimento de oposição ao Estado prussiano. Para isso procurou dar respostas a questões teórico-políticas tais como: Quais as condições para a transformação social? Quais os instrumentos dessa transformação?

É dessa maneira que Marx vê-se obrigado a submeter a uma dura crítica as duas principais correntes do pensamento político da Alemanha, crítica que ajudaria a amadurecer suas próprias ideias. Escreveu ele que o “partido prático” tem razão em exigir a negação da filosofia. O seu erro não estaria nessa exigência, mas em agarrar-se a uma exigência que não pode ser seriamente realizada. Numa palavra: não podem abolir a filosofia sem realizá-la. Por outro lado, o “partido teórico”, cujo ponto de partida era a filosofia, só viu no combate atual o combate crítico da filosofia contra o mundo alemão e não se acautelou contra o fato de que a própria filosofia fazia parte desse mundo, era o seu complemento ideológico. Ou seja: essa vertente acreditava poder realizar a filosofia sem a abolir.

Marx, portanto, acabou por apresentar um novo caminho para a oposição alemã, que passava necessariamente pela unidade entre a teoria e a prática. Indubitavelmente, escreveu, a arma da crítica não podia substituir a crítica das armas, até porque potência material só pode ser abatida por potência material, ainda que também a teoria possa se transformar em potência material na medida em que se apodere das massas.

Mas de que maneira pode a filosofia apoderar-se das massas e se tornar uma força realmente transformadora? A teoria, pensa Marx, é capaz de apoderar-se das massas desde que se torne radical, e ser radical é tomar as coisas pela raiz. E, para o Homem, a raiz é o próprio Homem. A teoria jamais se realiza num povo senão na medida em que é a realização de suas necessidades.

Outro aspecto que Marx levantava era o de que a revolução não era apenas um problema subjetivo, de realização pura e simples da filosofia, pois não basta que o pensamento tenda a se realizar, é também preciso que a realidade tenda a tornar-se pensamento (...) Uma revolução radical só pode ser uma revolução das necessidades radicais. A revolução é um problema que tem dois aspectos: um subjetivo, que é a revolucionarização da teoria, e outro objetivo, as condições históricas. Existiria uma relação dialética entre ambas e a mediação seria feita pela prática revolucionária.

A Alemanha, para Marx, não necessitava de uma revolução unicamente política e, portanto, parcial; não necessitava de outra revolução que deixasse de pé os pilares do edifício. A Alemanha precisava de um outro tipo de revolução, mais radical, que representasse verdadeiramente a emancipação humana, precisava de uma revolução social.

Mas onde residiria essa possibilidade, a possibilidade da revolução social alemã? O próprio Marx nos forneceu a resposta a essa questão. A possibilidade residiria na formação de uma classe com cadeias radicais, de uma classe na sociedade civil, de um grupo social que seja a dissolução de todos os grupos, que possua o caráter de universalidade pela leviandade de seus sofrimentos. Nas palavras de Marx, uma classe que não reivindicasse um direito particular, dado que não seria fruto de qualquer injustiça particular, mas da injustiça em si. Uma classe que não possa orgulhar-se do título histórico, mas apenas de um título humano. Uma esfera social, enfim, que não possa emancipar-se sem emancipar, por esse fato, todas as outras esferas da sociedade; que não possa reconquistar a si mesmo sem uma reconquista total do Homem. A dissolução da sociedade burguesa só poderia se realizar através de uma classe: o proletariado.

A filosofia encontrava assim no proletariado suas armas materiais e o proletariado encontrava na filosofia suas armas intelectuais. A cabeça dessa emancipação (humana) é a filosofia e o seu coração é o proletariado. O proletariado não pode abolir-se sem realizar a filosofia. E a filosofia não poderia se realizar sem a ação consciente do proletariado.

Foi assim que, entre os anos de 1843 e 1844, Marx fez uma de suas principais descobertas: a missão histórica do proletariado. Graças à sua posição objetiva na vida, esse seria o único grupo de homens capaz de transformar radicalmente a sociedade, abolindo a propriedade privada e construindo um novo mundo. Isso, porém, só seria possível quando esse agrupamento social estivesse instrumentalizado por uma filosofia crítica radical. A auto-libertação do proletariado passou a ser para Marx condição essencial para a libertação da própria humanidade, a emancipação universal, o encontro do Homem consigo mesmo: o fim da alienação.

Asseveram alguns que o proletariado da Introdução não seria ainda o proletariado da grande indústria, aquele do qual se extrairia a mais-valida. O proletariado ali mencionado corresponderia apenas à noção de trabalhadores desprovidos dos meios de produção, condenados objetivamente à degradação e à fome. Ou seja: nessa definição primitiva, o proletariado era definido não pela sua posição num sistema de produção e reprodução determinado (capitalista), mas principalmente pela sua miséria. Mesmo admitindo essa ressalva, é forçoso reconhecer que ela não invalida as afirmações anteriores, que colocam a Introdução como uma obra de ruptura.

Afinal, não poderíamos mesmo esperar que a passagem do jovem Marx ao Marx maduro se desse de repente, como Minerva nascendo da cabeça de Zeus, já de armadura e lança. A formação teórica é também um processo, marcado por saltos e acúmulos. E podemos afirmar que, sem sombra de dúvida, a Introdução representou um desses saltos, como outros que viriam.

A introdução do proletariado nas considerações de Marx criou profundas contradições em seu pensamento, abrindo nele lacunas que deveriam ser preenchidas. Era um Marx, decerto, atormentado e dividido entre aquele que aderia, de corpo e alma, ao movimento operário revolucionário em ascensão – movimento do qual viria a se constituir em um dos mais importantes teóricos – e o outro ainda preso, em muitos aspectos, a uma concepção não-proletária de mundo, o hegelianismo de esquerda. Essa contradição precisava ser resolvida, como de fato o foi.

(Continua na parte 7)


Leia as outras partes deste ensaio:
Parte 1
Parte 2
Parte 3
Parte 4
Parte 5

*Augusto Buonicore, historiador e mestre em Ciência Política pela Unicamp, é secretário-geral da Fundação Maurício Grabois e membro dos conselhos editoriais das revistas Princípios e Crítica Marxista. Este ensaio – cuja versão atual foi publicada originalmente em cinco partes na revista Juventude.br (números 1 a 5) – foi escrito há mais uma década e muitas das opiniões nele contidas não correspondem mais integralmente às posições do autor. A motivação principal de sua publicação é oferecer uma visão panorâmica da formação intelectual inicial de Marx, algo de grande utilidade especialmente para as jovens gerações de comunistas, que conhecem pouco a vida e a obra do fundador do socialismo científico. Ensaio publicado na página da Fundação Maurício Grabois.

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segunda-feira, 14 de março de 2011

A construção do Homem no jovem Marx (parte 5)


Por Augusto Buonicore

Marx analisou cada um dos direitos fundamentais presentes na constituição francesa – os direitos à liberdade, à igualdade e à fraternidade – procurando responder no que consistiriam esses direitos.

Desvendando os direitos humanos... da burguesia

Em outubro de 1843, após o fechamento da Gazeta Renana, Marx transferiu-se para Paris, considerada o coração da revolução europeia. Ali, juntamente com Arnold Ruge, pôs em prática seus planos para a publicação de uma revista teórica e política que seria denominada Anais Franco-Alemães. No início de 1844 saiu o primeiro número.

A revista tinha por objetivo a criação de uma imprensa livre – livre para dispor de si própria como muito bem apetecer, vivendo segundo suas próprias leis e fazendo a união real do espírito alemão com o espírito francês, encontro este com significado profundamente humanista. Ou seja, era uma obra que pretendia unir o espírito prático/revolucionário francês à filosofia clássica alemã. Unir o cérebro e o coração da revolução européia da época.

Nos Anais, que não sobreviveram ao primeiro número, Marx publicou dois artigos, A Questão Judaica e a Introdução à Crítica da Filosofia do Direito, através dos quais deu os primeiros passos que o libertariam do democratismo revolucionário pequeno-burguês e o conduziriam pela senda do comunismo.

O primeiro artigo foi uma crítica à obra A Questão Judaica, escrita por seu antigo amigo Bruno Bauer. Toda a discussão sobre o problema judeu, nesse período, centrava-se na atitude que os democratas deveriam tomar em relação à luta dos judeus pelos seus direitos políticos, visto que desde 1816 estavam proibidos de exercê-los na Alemanha. Todos, de uma forma ou de outra, apoiavam a aspiração dos judeus alemães, que se constituíam em importante ponto de apoio na luta geral da oposição contra a autocracia e pela separação entre Igreja e Estado.

Bauer, com sua obra, buscou contribuir com esse debate, mas sua postura aparentemente radical acabou por desviar a atenção do sentido correto da luta. Para ele, enquanto o Estado permanecer cristão, não pode atribuir direitos iguais aos judeus que professam uma religião hostil ao cristianismo. Portanto, a emancipação política do judeu pressupõe a supressão do Estado cristão. Mas para obter o seu pleno direito para lutar por essa supressão, os judeus devem renegar sua religião. O ateísmo seria assim a condição da emancipação política.

Marx acreditava que essa afirmação era equivocada. O Homem, para Marx, se emancipa politicamente da religião ao bani-la do direito público para o direito privado. “A religião já não é o espírito de sociedade burguesa (...), mas deslocando a religião em relação ao Estado para transferi-la à sociedade burguesa (...) constitui (...) a consagração da emancipação política a qual (...) não suprime, nem tem por objetivo suprimir a religiosidade real do Homem”, como pensava Bauer.

Por isso Marx não dizia, como Bauer, “não podeis emancipar-vos politicamente se não vos emancipar radicalmente do judaísmo”. Ao contrário, afirmava: “podereis emancipar-vos politicamente sem vos desvincular radicalmente e absolutamente do judaísmo, porque a emancipação política não implica em emancipação humana. Quando vós judeus quereis a emancipação política sem vos emancipar humanamente, a meia solução, a contradição não reside em vós, mas na essência e na categoria de emancipação política”.

Para Bauer os direitos não eram ideias inatas do Homem, fórmulas a priori, mas representavam uma conquista e só poderiam possuí-los aqueles que soubessem adquiri-los, merecê-los. Os judeus, enquanto permanecessem judeus, teriam sua essência humana colocada em segundo plano; o Homem então teria que sacrificar o privilégio da fé se quisesse obter os direitos gerais do Homem.

Essa afirmação para Marx encerrava uma contradição, já que o privilégio da fé era expressamente reconhecido, seja como direito humano, seja como conseqüência de um direito humano: o da liberdade. A religião, afirmava ele, longe de se constituir incompatível com o conceito dos direitos humanos, incluía-se expressamente entre eles. Afinal, os direitos humanos proclamam o direito religioso.

Marx passa, então, a analisar o problema dos direitos humanos em geral, em especial como eles se colocavam na Declaração dos direitos dos homens e dos cidadãos, de 1793, mostrando as limitações desses direitos estatuídos que, em última instância, se reduziam a um único direito: o direito à propriedade.

Marx buscava fazer uma análise crítica do que representavam os direitos do Homem na sociedade capitalista, bem como compreender os fundamentos do discurso liberal-burguês. Os direitos humanos, para ele, nada mais eram que os direitos dos membros da sociedade burguesa, do homem egoísta, do homem separado do Homem e da comunidade. O individualismo é a base da concepção de mundo da burguesia. Marx analisou cada um daqueles direitos fundamentais presentes na constituição francesa – os direitos à liberdade, à igualdade e à fraternidade – procurando responder no que consistiriam esses direitos.

A Declaração dos Direitos do Homem afirmava: a liberdade é o poder do próprio homem de fazer tudo aquilo que não entre em conflito com os direitos de outros, ou, simplesmente, a liberdade consiste em poder fazer tudo aquilo que não prejudique outrem. É dessa forma que Marx conclui que o conceito burguês de liberdade visava em última instância estabelecer os limites da própria liberdade. Tratava-se da liberdade de um homem encarado como mônada – isolado e dobrado sobre si mesmo. Escreveu Marx: os direitos do Homem não se baseiam na união do homem com o homem, mas pelo contrário na separação do homem em relação a seu semelhante. A liberdade é o direito do indivíduo delimitado, limitado a si mesmo. Para ele a aplicação desse direito à liberdade se traduzia, na prática, no direito humano à propriedade privada.

O direito humano à propriedade privada era o direito assegurado a todo cidadão de gozar e dispor de seus bens, rendas, dos frutos de seu trabalho e de sua indústria como melhor lhe conviesse. Portanto, esse era o direito de desfrutar de seu patrimônio e de dele usufruir arbitrariamente, sem atender aos demais homens, independente da sociedade. Esse constitui o fundamento da sociedade burguesa, sociedade que faz com que todo homem encontre em outro homem não a realização de sua liberdade, mas, pelo contrário, uma ameaça a esta e uma limitação desta.

Restava ainda examinar dois outros direitos humanos: o da igualdade e o da segurança. O direito humano à igualdade era pontificado em todas as constituições liberais. A própria constituição de 1785 afirmava que a igualdade consistia na aplicação da mesma lei para todos, seja quando protege seja quando castiga. Mas, nos marcos de uma sociedade marcada pela existência de profundas diferenciações, econômicas e sociais, qualquer declaração que propugnasse uma igualdade jurídica em geral, esquecendo-se de colocar igualmente o problema da abolição das desigualdades sociais reais, não passaria de uma meia-medida. Ou seja: era necessário estabelecer uma distinção entre liberdade formal e liberdade real.

Por fim, o direito à segurança. A constituição de 1795 afirmava: a segurança consiste na proteção conferida pela sociedade a cada um de seus membros para a conservação de sua pessoa, de seus direitos e de suas propriedades. Este, portanto, na sociedade moderna (capitalista), tornava-se o direito supremo, o direito de polícia, segundo o qual a sociedade somente existia para garantir a cada um de seus membros a conservação de sua pessoa, de seus direitos e de suas propriedades. O conceito de segurança não faz com que a sociedade burguesa se sobreponha a seu egoísmo. A segurança é, pelo contrário, a condição garantidora deste.

Nenhum dos chamados direitos humanos, para Marx, ultrapassava o egoísmo do homem, do homem enquanto membro da sociedade burguesa, isto é, do indivíduo voltado para si mesmo, para seu interesse particular em sua arbitrariedade privada e desassociada da comunidade. Nessa concepção egoísta, o único nexo que mantém os homens em coesão é a necessidade natural de conservação de suas propriedades e de sua individualidade. Por conseguinte, o homem que não se libertou da religião obteve, sim, liberdade religiosa. O homem que não se libertou da propriedade obteve a liberdade da propriedade, assim como o que não se libertou do egoísmo da indústria obteve a liberdade industrial.

(Continua na parte 6)

Leia as outras partes deste ensaio:

*Augusto Buonicore, historiador e mestre em Ciência Política pela Unicamp, é secretário-geral da Fundação Maurício Grabois e membro dos conselhos editoriais das revistas Princípios e Crítica Marxista. Este ensaio – cuja versão atual foi publicada originalmente em cinco partes na revista Juventude.br (números 1 a 5) – foi escrito há mais uma década e muitas das opiniões nele contidas não correspondem mais integralmente às posições do autor. A motivação principal de sua publicação é oferecer uma visão panorâmica da formação intelectual inicial de Marx, algo de grande utilidade especialmente para as jovens gerações de comunistas, que conhecem pouco a vida e a obra do fundador do socialismo científico. Ensaio publicado na página da Fundação Maurício Grabois.

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quinta-feira, 10 de março de 2011

Dica para a tarde de sexta na praça



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Coletivo Jovem da CTB/RS planeja Encontro Estadual

Lideranças da juventude trabalhadora ligadas a educação, cultura, sapateiros, comerciários e trabalhadores rurais, se reuniram no dia 25 de fevereiro na sede da FECOSUL em Porto Alegre/RS para discutir as ações da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) no Rio Grande do Sul, na área da juventude para o ano de 2011. A reunião do Coletivo da Juventude Trabalhadora da CTB gaúcha teve a presença do dirigente estadual da CTB, Henrique, e dos dirigentes nacionais Vicente Selistre e Vitor Espinoza, presidente do Sindicomerciários de Taquari.

O Coletivo de Juventude Trabalhadora da CTB/RS aceitou o desafio estratégico que está colocado para a CTB no próximo período: atrair a juventude gaúcha para o movimento sindical. Para isso, faz-se necessária a tarefa de organizar um expressivo II Encontro Estadual da Juventude Trabalhadora da CTB, que possa definir as principais bandeiras da juventude trabalhadora gaúcha e definir um programa unificado de luta da juventude da CTB no estado.

Trabalho, educação, cultura e lazer são direitos da juventude

Tal encontro, que deve ser propositivo para o II Encontro Nacional da Juventude Trabalhadora da CTB e para a II Conferência Nacional de Juventude, precisará discutir e propor políticas que possam garantir os direitos da juventude trabalhadora do campo e da cidade. Trabalho, educação, cultura e lazer são as principais preocupações dos jovens hoje, segundo institutos como o IBGE, o IBASE e o IPEA. Conciliar trabalho e educação com acesso a produção e consumo do lazer e da cultura é uma dificuldade que se apresenta a juventude brasileira.

Como trabalhar e estudar ao mesmo tempo? Para o trabalhador estudante do campo, a dificuldade de responder a essa pergunta está na insuficiente oferta de educação no meio rural, bem como de crédito, assistência técnica e demais políticas de incentivo a permanência do jovem no campo. Tal carência de políticas acaba criando um cenário que dificulta a permanência do jovem no meio rural e a continuidade da agricultura familiar. Intensifica-se, com isso, a urbanização desordenada dos grandes centros.

Os jovens do meio urbano também encontram desafios. Conseguir um emprego acaba sendo o objetivo maior, mas deixar os estudos de lado é a senha para não conseguir melhores remunerações futuras. As longas jornadas de trabalho muitas vezes desestimulam o jovem a continuar estudando, produzindo altos níveis de evasão escolar desde o nível fundamental até a pós-graduação, mesmo que os últimos anos tenham sido marcados pelo aumento de vagas nos três níveis, em especial no nível superior. Tanto para os jovens que conseguem aliar trabalho e estudo, quanto para os que só estudam ou só trabalham, o acesso a cultura e lazer é dificultado, seja por falta de tempo, seja por falta de dinheiro.

Por tudo isso, é preciso formular um programa que unifique os trabalhadores do campo e da cidade, da agricultura, indústria, comércio e serviços, em torno das especificidades do que é ser jovem hoje. O trabalhador e estudante precisa de políticas de garantia da conciliação dessas duas atividades, coibindo os abusos patronais, como o trabalho aos domingos, ampliando a assistência para a mãe trabalhadora, ampliando políticas de estímulo a permanência do jovem no campo.

Vale-cultura: uma conquista que deve ser garantida

Como diz a canção dos Titãs, “a gente não quer só comida, a gente quer bebida diversão e arte”. Graças a luta dos trabalhadores e trabalhadoras, obteve-se o vale-cultura, que é um vale de R$50 para trabalhadores com rendimento de até cinco salários mínimos, que poderá ser gasto em cinemas, teatros, shows, eventos esportivos, livrarias, etc. No entanto, para implementar a medida, os empresários precisam aderir ao benefício. É hora de colocar como pauta de negociação nas convenções coletivas a adesão ao vale-cultura tanto no serviço público como no privado.

Não são poucas as demandas da juventude trabalhadora. A conquista de seus direitos contribui diretamente para o desenvolvimento do Rio Grande do Sul e do Brasil. Intensificar a mobilização e as lutas é o único caminho para construir um projeto de desenvolvimento que valorize os jovens trabalhadores, que na maioria das vezes estudam, e que não pode abrir mão de acessar e produzir cultura. O desafio do Coletivo da Juventude trabalhadora da CTB/RS está colocado. É hora de pisar no acelerador e fazer um 2011 cheio de lutas e realizações.


Do blog Igor de Fato

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quarta-feira, 2 de março de 2011

Quem vem com tudo não cansa!

Posse da gestão 2011 do DCE Unimontes: pontapé inicial para um ano de muitas lutas!

Na última sexta-feira (25), na Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), aconteceu a posse da nova diretoria do Diretório Central dos Estudantes da Unimontes (DCE Unimontes), a gestão “Quem vem com tudo não cansa! Na pressão pelas mudanças”. A solenidade começou às 21:00 e contou com a presença de cerca de mil estudantes. O evento foi conduzido pelo ex-presidente do DCE, Daniel Dias, e pela Secretária-geral da Gestão 2010, Débora Guedes, estudante do curso de Geografia e Diretora de Universidades Públicas Estaduais da União Estadual dos Estudantes de Minas Gerais (UEE-MG).

O presidente empossado, Luis Felipe Costa, estudante de Ciências Sociais, ressaltou o compromisso que essa gestão terá com os acadêmicos, para realizar e colocar em prática as propostas e ações defendidas durante a campanha, dentre elas, aprovar a PEC da Moradia Universitária, em tramitação na Assembleia Legislativa, e garantir o pleno funcionamento do Restaurante Universitário, previsto para ser inaugurado ainda neste semestre. Segundo Luis Felipe, "esse DCE será marcado pela combatividade, e um exemplo disso, é a luta pelo meio-passe, que já é lei em Montes Claros e os estudantes até hoje não viram a lei ser implementada. Para isso, nós vamos ocupar as ruas de Montes Claros, fazendo uma jornada de lutas histórica na nossa cidade”.

O pró-reitor de Planejamento, Gestão e Finanças da Unimontes, professor Wagner de Paulo Santiago, esteve presente ao evento como representante do reitor, professor João dos Reis Canela. Diversas entidades dos movimentos sociais também marcaram presença na cerimônia. A professora Ilva Ruas representou os sindicatos dos docentes e dos servidores técnico-administrativos, reforçando a importância da representação discente para projetos coletivos na Unimontes, em sintonia com professores e servidores.

A Vice-presidente Norte da UEE-MG, Deybiane Francielly, em seu discurso enalteceu a importância da entidade para a aniversidade e região, a responsabilidade de representar 22 mil estudantes, sempre promovendo o debate político e educacional nas diversas esferas da sociedade mineira, aproveitando ainda para convocar os estudantes e toda a população a participarem da Jornada de Lutas da UNE (União Nacional dos Estudantes). “Reivindicamos 50% do fundo social do pré-sal e 10% do PIB brasileiro para a educação. Além disso, queremos 14% do orçamento das universidades para a assistência estudantil, e um orçamento próprio para as universidades estaduais, sendo que este é o principal entrave para o desenvolvimento da nossa universidade” , afirmou Deybiane.

Com o slogan “quem está chegando agora não pode ficar de fora” o DCE chamou os estudantes para a festa, que aconteceu logo após a posse, com vinhada e show da banda Taboo.

Sucesso à nova gestão e vamos à luta!

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A construção do Homem no jovem Marx (parte 4)


Por Augusto Buonicore

Apetrechado do método feuerbachiano de inversão sujeito/predicado, Marx passou a estudar (e a criticar) a filosofia política de Hegel, e particularmente seus Princípios da Filosofia do Direito. Esse interesse pela política já vinha sendo desenvolvido desde o seu doutoramento.

A Crítica da Filosofia do Direito

Em 1841, enquanto Marx defendia sua tese de doutoramento, Feuerbach publicava A essência do cristianismo, na qual submetia a uma crítica materialista a obra de Hegel. A filosofia de Feuerbach, segundo ele próprio, nasceu “da oposição à filosofia de Hegel e só à luz dessa oposição pode ser apreendida e avaliada; aquilo que em Hegel tem a significação secundária, de subjetivo, de forma, tem em mim a significação de primitivo, de objetivo, de essencial”. E continuava: “o meu pensamento são apenas conclusões, conseqüências de premissas que não são de outros pensamentos, mas dos fatos objetivos quer vivos quer históricos (...) Para pensar eu preciso dos sentidos (...) Não engendro o objeto; só é, porém, objeto aquilo que existe fora da cabeça.”

O materialismo e o ateísmo radical de Feuerbach eram apenas pontos de partida para um vigoroso humanismo. Sua filosofia falava “uma língua humana e não uma língua sem nome e sem ser”. Ele só considerava a filosofia “feita homem, tornada carne e osso”. A tarefa central da filosofia não podia ser outra a não ser a de “fazer do filósofo homem e do homem filósofo (...) Ela deve compreender em si toda a essência do Homem, todas as faculdades (...) Só a filosofia tornada humana é positiva, isto é, verdadeira filosofia”. Foi sob esse ponto de vista, materialista e humanista, que aplicou a sua mais veemente crítica aos fundamentos da religião.

O verdadeiro sujeito era o Homem, que nas obras de Hegel havia se convertido em predicado de Deus (ou idéia absoluta), quando este na verdade era produto dos homens reais, predicado seu. Feuerbach inverteu assim a fórmula hegeliana e estendeu essa inversão a todo o campo de sua filosofia especulativa. Escreveu: “Tal qual a Teologia, que aliena a essência humana para transferi-la para fora do Homem e fazer dela uma divindade supra-terrestre, também a filosofia especulativa aliena o Homem da natureza e transfere o pensamento humano para fora do Homem, transforma esse pensamento num espírito transcendente absoluto (...) A verdadeira relação do pensar com o ser é apenas esta: o ser é objeto e o pensar é o predicado. O pensar é a partir do ser, mas o ser não é a partir do pensar.”

Feuerbach criticou o método da filosofia especulativa hegeliana: “O caminho seguido até aqui pela filosofia especulativa, do abstrato ao concreto, do ideal ao real, é um caminho de contra-senso. O ser, pelo qual a filosofia começa, não poder ser separado da consciência do ser.” Ele buscou assim inverter o edifício hegeliano, seu sistema. Segundo Marx, “onde Hegel diz ‘espírito’, Feuerbach diz ‘matéria’; onde Hegel diz ‘Deus’, Feuerbach diz ‘Homem’. Não é Deus que se aliena no Homem, é o Homem que se aliena em Deus.”

Tais ideias empolgavam o jovem Marx, que, contra seus adversários, os hegelianos ortodoxos, lançou a seguinte sentença: “Aconselho-vos a vós, teólogos e filósofos especulativos, a desembaraçar-vos dos conceitos e dos preconceitos da velha filosofia especulativa se quereis atingir as coisas tais como são em realidade, isto é, a verdade. E para vós não há outro caminho que leve à verdade senão esse ‘rio de fogo’ (Feuer-Bach). Feuerbach é o purgatório do nosso tempo”.

Apetrechado do método feuerbachiano de inversão sujeito/predicado, Marx passou a estudar (e a criticar) a filosofia política de Hegel, e particularmente seus Princípios da Filosofia do Direito. Esse interesse pela política já vinha sendo desenvolvido desde o seu doutoramento e sua breve passagem pela Gazeta Renana, na qual foi redator e responsável por artigos em defesa da liberdade de imprensa e sobre o roubo de lenha, nos quais já se colocava ao lado dos trabalhadores – os milhares de camponeses acusados de furto de lenha nos bosques da aristocracia rural alemã – e em defesa dos camponeses pobres da região de Mosela.

Marx afirmou na sua Introdução à Crítica da Filosofia do Direito: “No que diz respeito à Alemanha, a crítica da religião está, no essencial, terminada, e a crítica da religião é a condição preliminar de toda crítica (...) O fundamento dessa crítica à religião é: foi o Homem quem fez a religião e não foi a religião que fez o Homem”.

Ele, no entanto, compreendeu a limitação dessa crítica que, embora justa, encontrava-se, em certo sentido, também invertida. “O Homem não é um ser abstrato escondido fora do mundo. O Homem é o mundo do Homem, Estado e sociedade. Esse Estado, essa sociedade, produz a religião, consciência invertida do mundo (...) porque eles próprios são um mundo invertido.” Portanto, “a crítica do céu transforma-se assim em crítica da terra, a crítica da religião em crítica do direito, a crítica da teologia em crítica da política”.

E foi justamente essa crítica que Marx se propôs a fazer, desmistificando o discurso hegeliano no qual o “povo tomado sem o seu monarca é sem articulação do todo (...) é a massa sem forma, que não é Estado nenhum”. Ele, à maneira de Feuerbach, inverteu a fórmula hegeliana, que na verdade era uma justificativa para a existência do Estado prussiano. Para Marx não era o Estado que fundava o povo e lhe dava o sentido, mas era o povo quem construía as bases do Estado. “Assim como a religião não cria o Homem, mas o Homem cria a religião, também a Constituição não cria o povo, mas é o povo quem cria a Constituição.” Continuou: “Os negócios e atividades do Estado estão ligados aos indivíduos (...) Se Hegel tivesse partido dos sujeitos reais como base do Estado não teria a precisão de deixar o Estado transformar-se em sujeito de uma maneira mística.”

Mas quem era esse indivíduo real, a base do Estado, para Marx? O indivíduo para ele ainda era, em parte, o mesmo de Feuerbach e de todos liberais revolucionários franceses do século XVIII. Mas, ao mesmo tempo, o conceito de Marx apresentava um elemento original ao não ver, como os contratualistas, o Homem como mônada egoísta, como um Robson Crusoé moderno. Para ele “não é a natureza abstrata que faz a essência de uma personalidade particular, mas a sua qualidade social; os Estados (...) não são senão modos de existência e de ação das qualidades sociais do Homem”.

Para Marx, como para Feuerbach, o egoísmo não se constituía na verdadeira natureza humana, como acreditavam os contratualistas franceses. Esta residia antes em sua “nobre necessidade de um comércio desinteressado com os outros (...) mas ele quer agir para o bem dos outros, pelo bem geral. Tais atos não unem simplesmente o Eu e o Tu (como afirma Feuerbach), mas fundem os indivíduos num povo”. Portanto, o Homem deve ser elevado à vida política, que seria o campo das verdadeiras relações entre os homens.

Marx transferia o problema da alienação humana dos estreitos limites da crítica da religião para um campo mais vasto: o da própria relação do homem com os outros homens, o mundo da política e das relações sociais. Ele se detém então na crítica da alienação humana no Estado moderno. Dedica-se especialmente ao problema da burocracia estatal.

Eram os homens que construíam o Estado e, ao fazê-lo, criavam um grupo social (burocracia) que teria por função descobrir e concretizar o interesse geral. Até aí em nada se diferenciava dos cientistas políticos burgueses, mas, ao contrário deles, já acreditava que essa função era apenas aparente, ilusória, pois o Estado (enquanto corpo burocrático) ocultaria seus interesses particulares de corporação. O Estado separado da sociedade a oprimia e a alienava de sua essência humana. Marx acreditava que, para libertar a essência humana aprisionada, era necessário pôr fim a esse Estado, que não correspondia aos interesses da razão. Embora as conclusões fossem radicalmente diferentes das de Hegel, utilizou-se da terminologia e, em certo sentido da própria lógica de Hegel, segundo a qual “só existe o que é racional”. Marx, portanto, era ainda um democrata radical e não um comunista.

Em que consistiria, então, a limitação de Marx? Faltava a ele o essencial, faltava compreender que a sociedade se dividia em classes sociais, com interesses contraditórios e antagônicos, e que o Estado não defendia apenas seus interesses de corporação mas sim os interesses de uma das classes sociais. O Estado representava os interesses das classes economicamente dominantes. Em outras palavras, ele não era nada mais que um instrumento de dominação de uma classe sobre a outra. Uma descoberta que Marx só faria anos mais tarde, embora possamos afirmar, pelos artigos da Gazeta Renana, que essas conclusões já começavam a se esboçar no jovem Marx.

(Continua na parte 5)

Leia as outras partes deste ensaio:

*Augusto Buonicore, historiador e mestre em Ciência Política pela Unicamp, é secretário-geral da Fundação Maurício Grabois e membro dos conselhos editoriais das revistas Princípios e Crítica Marxista. Este ensaio – cuja versão atual foi publicada originalmente em cinco partes na revista Juventude.br (números 1 a 5) – foi escrito há mais uma década e muitas das opiniões nele contidas não correspondem mais integralmente às posições do autor. A motivação principal de sua publicação é oferecer uma visão panorâmica da formação intelectual inicial de Marx, algo de grande utilidade especialmente para as jovens gerações de comunistas, que conhecem pouco a vida e a obra do fundador do socialismo científico. Ensaio publicado na página da Fundação Maurício Grabois.


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terça-feira, 1 de março de 2011

João Amazonas: uma vida dedicada ao socialismo

Amazonas tem perfil parlamentar publicado em livro pela Câmara

A Câmara Federal acaba de disponibilizar em seu acervo eletrônico e lançará oficialmente em 23 de março também na versão impressa mais um título da série “Perfis parlamentares”. Desta vez, o destaque é João Amazonas. O dirigente histórico do Partido Comunista do Brasil foi deputado constituinte em 1946, exercendo o mandato até a cassação do partido em 1947. Organizado pelo jornalista Pedro de Oliveira, o livro tem a apresentação do deputado Aldo Rebelo e prefácio do senador Inácio Arruda.

Conforme destacou Pedro de Oliveira, este perfil parlamentar procura resgatar as contribuições de João Amazonas não somente no âmbito do Congresso Nacional, mas também na esfera do movimento social, intelectual e político brasileiro. Amazonas teve a maior parte de sua vida marcada “pela perseguição ininterrupta de governos arbitrários e ditatoriais. Conquistados os períodos preciosos de liberdade, entretanto, suas atividades puderam ser acompanhadas de perto, como o foram durante meados dos anos 40 do século passado, quando da Constituinte de 1945, e depois a partir de 1985, com a redemocratização do país”.

O processo para a realização do livro durou sete anos e consistiu no levantamento dos discursos realizados no plenário do Congresso Nacional quando da discussão da Constituinte de 1945, além de uma biografia escrita pelo historiador Augusto Buonicore e textos assinados por Renato Rabelo (presidente do PCdoB), José Carlos Ruy (jornalista e editor do jornal comunista Classe Operária), Adalberto Monteiro (secretário de Formação do PCdoB e presidente da Fundação Maurício Grabois) e Haroldo Lima (presidente da ANP).

A publicação será enviada para bibliotecas públicas e outros centros de referência para estudo e pesquisa a respeito da história política do Brasil. O lançamento nacional está programado para o dia 23 de março próximo, no Salão Nobre da Câmara dos Deputados, em Brasília, às 17 horas. Na mesma ocasião serão comemorados os 89 anos de vida ininterrupta do mais antigo partido político nacional em funcionamento no país, que é também o mais jovem por sua composição social e por suas ideias: o PCdoB.

Síntese de uma vida

Homem da política, das ideias e das lutas sociais, João Amazonas atuou em diversas frentes para a construção de um país mais justo e soberano, caminho brasileiro para o socialismo. Além de ideólogo do comunismo e de ser um dos pilares da construção partidária, Amazonas esteve na Guerrilha do Araguaia (1972-1974), foi parlamentar e um dos articuladores da candidatura de Lula à Presidência da República.

No prefácio, o senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) destaca: “O nome de João Amazonas lembra de imediato a palavra que é a síntese de toda a sua vida: comunista, não apenas no sentido ideológico, mas significando também um compromisso com uma visão de mundo e de sociedade”.

Mais adiante, acrescenta: “sou testemunha de que João Amazonas foi o artífice da necessária unidade das forças progressistas e avançadas na direção de um projeto político e social de caráter emancipatório para o povo brasileiro. Pacientemente, ele construiu, convenceu, dirimiu dúvidas daqueles mais incrédulos da possibilidade da construção de um novo rumo para o Brasil, com soberania e desenvolvimento nacional”.

Um dos destaques feitos na publicação é o fato de Amazonas, especialmente como parlamentar, ter dedicado suas ações sempre aos trabalhadores e à melhoria do povo brasileiro. Como constituinte, apresentou 17 emendas ao projeto de Constituição, “entre elas a que fixava a jornada de trabalho num máximo de oito horas diárias, instituía o direito irrestrito de greve e a efetiva liberdade de organização sindical, e aperfeiçoava a já arejada legislação trabalhista com inovações voltadas para a higiene e a segurança no ambiente de trabalho”, destaca a apresentação assinada pelo deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP).

Quando deputado, Amazonas era um dos 15 comunistas na Casa, que tinha então 320 deputados. O partido contava, também, com um senador: Luis Carlos Prestes. Amazonas foi eleito pelo Distrito Federal (no então estado da Guanabara, hoje Rio de Janeiro) com 18.379 votos, número expressivo para a época.

Ao contextualizar aquele período, Rebelo anota: “Mesmo a conservadora redemocratização operada naquele período serviu de estuário para que os comunistas, empolgados com a vitória dos Aliados contra o eixo do nazifascismo, se empenhassem em alargar as bases das liberdades democráticas. Getúlio Vargas fora deposto, mas as instituições e os tiranetes do Estado Novo, a começar do então presidente Eurico Dutra, prolongavam sua sobrevida autoritária e limitavam as lutas populares. Sindicatos eram tomados pelo Ministério do Trabalho, grevistas espancados nas fábricas, comunistas sequestrados no meio da noite para sofrer torturas em lugares ermos, e até a comemoração do Dia do Trabalhador, internacionalmente uma data de festa e de lutas, era tirada das ruas e confinada a auditórios fechados”.

Finalizando sua apresentação, Aldo destaca: “João Amazonas viveu para ver o Brasil redemocratizado e os comunistas integrados ao esforço de construção da pátria independente, da pátria democrática, da pátria justa para seus filhos, caminho para a pátria socialista com que sonhou e para a qual viveu e lutou”.

Para acessar o livro, clique aqui.


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Teatro na Real

UJS promove Oficina de Teatro


“Oficina: Teatro na Real”
Inicio: 19/03
Término: 16 /07
Carga Horária: 36h/a.
Local: Sala de Teatro/Unimontes – Prédio 2 – Campus Universitário Prof° Darcy Ribeiro
Vagas: 30
Valor: R$ 15,00 (parcela única) para manutenção da oficina
Obs: os encontros serão todos os sábados de 8:00 às 11H da manhã. Teremos certificados de participação.

Informações e inscrições no DCE - Unimontes: (38) 3229-8023 ou
ujs.moc@gmail.com

Conteúdo da oficina: experimentação com o teatro político de Bertolt Brecht, buscando compreender e criar um novo olhar sobre a realidade pessoal e coletiva dos participantes. A oficina propõe a reconstrução desta realidade a partir dos signos e significados da compreensão social e política tanto individual quanto coletiva.

Ministrante: Rodriggo Silva – professor de teatro, ator e produtor cultural, é membro de Grupo Teatral Olho de Gato desde 2006 onde já participou de diversos espetáculos. Formado em Artes Teatro pela Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes realiza pesquisa sobre o teatro político e seus desdobramentos com a realidade vivente.

APOIO: Grupo Teatral Olho de Gato e DCE Unimontes



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A conquista do socialismo depende da juventude atual


Augusto César Petta*

Quando iniciei meus estudos universitários em Ciências Sociais, na PUC de Campinas, em 1966, havia quase dois anos que as classes dominantes tinham implantado a ditadura militar no Brasil. Já consciente do significado do golpe militar, passei a atuar no movimento universitário. O movimento estudantil cresceu significativamente, tornando-se a força política mais importante de resistência à ditadura. Esse crescimento intensificou-se em 1968, com inúmeras manifestações dentro das escolas e nas ruas. O AI-5, considerado o golpe dentro do golpe, quis fazer calar as vozes discordantes, com prisões, torturas e mortes, sobretudo na época do Governo Médici.

O movimento estudantil na época, considerando-se as principais tendências de esquerda que atuavam, tinha a perspectiva de conquista do socialismo. Acreditávamos que o grande entrave era a ditadura militar. Dessa forma, lutamos muito pelo fim do regime militar, entendendo que a queda desse regime, abriria grandes perspectivas para a conquista do socialismo em curto prazo. Foi muito importante a conquista da democracia na década de 80, mas não o suficiente para chegarmos à sociedade socialista. No final dos anos 80 e início dos anos 90, alguns acontecimentos desferiram um profundo golpe no coração dos que acreditavam que a conquista do socialismo estava próxima: a queda das experiências socialistas na União Soviética e nos países do leste europeu e a eleição de Collor como Presidente do Brasil. Diante desses fatos, muitos militantes sucumbiram e abandonaram a luta, com o pretexto da inviabilidade dos objetivos propostos.

Eu continuei entre aqueles que colocam o socialismo como grande objetivo estratégico, com a certeza de que os grandes problemas da humanidade não serão resolvidos no sistema capitalista, que contem, nas suas entranhas, a exploração. O fim da exploração significará o fim do capitalismo. Aprendemos que o tempo necessário para atingirmos esse objetivo estratégico é muito maior do que pensávamos, mas a sua viabilidade continua fortalecida. Na medida em que os trabalhadores e as trabalhadoras forem se conscientizando a respeito das causas profundas da fome, da miséria e de tantas outras mazelas, terão mais força para virarem o jogo. Muitas são as manifestações politizadas em vários países, destacando-se atualmente a grande mobilização do povo egípcio, que conseguiu derrubar o Presidente ditador.

No entanto, o socialismo só será viável, se contar com a participação dos jovens de hoje. São eles que poderão dar sequência a essa luta. Ocorre que eles estão bombardeados pela mídia e pela necessidade premente de conseguir ou manter seus respectivos empregos. As ideias individualistas cresceram sob a influência nefasta do neoliberalismo, que por sua vez, contribuiu decisivamente para o crescimento do desemprego. As mudanças provocadas pelo Governo Lula abriram novas possibilidades à juventude, quer seja porque os postos de trabalho aumentaram, quer seja porque aumentou a possibilidade de que os jovens possam compreender melhor as características da sociedade na qual estão inseridos.

Hoje tenho cada vez mais a convicção da necessidade de desenvolvermos com muita força um processo de formação, que atinja os trabalhadores e as trabalhadoras, inclusive e com destaque, a juventude. Se os jovens entenderem o que é o capitalismo, as classes sociais nele inseridas, a importância do poder político, a história das lutas desenvolvidas pelos povos, as concepções que permeiam os movimentos sociais, e se dispuserem a entrar nessa luta, ao lado das classes dominadas (às quais eles, na sua maioria, pertencem), então poderemos acreditar que o socialismo chegará. E esse acreditar, não é algo idealista longe da realidade, mas é decorrência da própria maneira como o capitalismo se organizou, provocando o desenvolvimento da luta de classes, decorrente da brutal exploração a que os trabalhadores e as trabalhadoras estão submetidos.

* Professor, sociólogo, Coordenador Técnico do Centro de Estudos Sindicais (CES), membro da Comissão Sindical Nacional do PCdoB, ex- Presidente do SINPRO-Campinas e região, ex-Presidente da CONTEE


Foto: Débora Guedes


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