Por Ramon Alvez*
Embora forjado a partir de intensas lutas sociais, o nosso povo alcançou a unidade. Diferentemente de outras nações, e mesmo diante da nossa extensão territorial, tornamo-nos um povo uno, com uma história rica e de intensa participação popular nos destinos do país.
Conquanto as elites propagandeiem o contrário, ninguém apaga a nossa história. Desde os primórdios da escravidão, quando homens e mulheres, índios e negros, foram submetidos a uma cruel e degradante escravidão, sublevamo-nos. Essa resistência marcou a nossa formação, tornando-nos um povo resistente e capaz de superar as adversidades.
A juventude como protagonista das mudanças
Por seu idealismo e determinação, os jovens sempre estiveram à frente das mudanças no Brasil. Da resistência à colonização, aos grandes movimentos surgidos principalmente no I Império, passando pelas manifestações de cunho patriótico que marcaram a participação popular a partir da década de 40 do século passado e, ainda, a resistência à ditadura, diversas de nossas gerações contribuíram para as nossas longas e ruidosas transições.
É parte fundamental da nação que hoje somos a campanha O Petróleo É Nosso, que culminou com a criação da Petrobrás, em outubro de 1953. Desde o princípio, a União Nacional dos Estudantes mobilizou importantes segmentos da sociedade para a importância estratégica que o petróleo teria para o nosso desenvolvimento.
Os setores conservadores não tardaram em atacar as manifestações populares através da violência, buscando deslegitimar as entidades e, por muitas vezes, intervindo em seu funcionamento. Com o aumento da pressão popular pelas reformas de base, durante os anos 60, os militares – apoiados diretamente pelos EUA – golpearam a democracia, torturaram e assassinaram milhares de brasileiros e brasileiras, alguns cujos corpos jamais foram encontrados. A UBES e a UNE foram postas na ilegalidade e alguns de seus dirigentes até hoje estão desaparecidos.
Resistimos. Desde as mais diversas operações urbanas de combate à ditadura até a guerrilha do Araguaia, o povo mobilizou-se heroicamente a favor do país. Somos herdeiros dessas gerações que deram suas vidas e cujos sobreviventes até hoje se dedicam por um mundo novo. E é esse mundo novo que nos livrará da humilhante opressão do homem pelo próprio homem, que gera uma concentração fantástica de riqueza nas mãos de poucos e relega bilhões de seres humanos à miséria, subempregos, drogas, violência e prostituição. Chegamos a um estágio de concentração de renda em que 500 empresas detêm 44% do PIB mundial.
A UJS como instrumento avançado de participação juvenil
Com a fundação da União da Juventude Socialista, em 1984, a juventude encontra um espaço para se organizar e defender bandeiras que ecoariam por todo o país. Dentre as várias vitórias alcançadas, garantimos, em vários municípios, leis de meio passe estudantil, além de conquistarmos o direito à meia-entrada. No entanto, foi o movimento dos "caras pintadas" que marcou a década de 90, levando ao impeachment do presidente Collor. Milhões de jovens foram às ruas com o verde amarelo da nossa bandeira, na defesa do país.
Collor caiu. Depois dele, veio Fernando Henrique Cardoso. Com projeto de país semelhante, FHC promoveu um verdadeiro desmonte do Estado, assumindo o neoliberalismo como projeto hegemônico das elites. Sob sua gestão, perdeu a produção e ganharam os rentistas, que vivem dos juros e da especulação financeira. Esse parasitismo acentuou a nossa dívida pública, freou o nosso desenvolvimento e sugou parte importante dos investimentos sociais, agravando o quadro educacional e da saúde pública. Com o fosso que distancia ricos e pobres ainda mais ampliado, é fácil constatar quem foram os mais prejudicados.
Não cruzamos os braços. Estivemos destacadamente à frente das lutas sociais que desgastaram o ex-presidente, canalizando a insatisfação popular para a eleição de Lula, em 2002. Os jovens foram um dos principais segmentos de sustentação dessas mudanças e no desejo de construir um país melhor.
Não somente ajudamos a eleger o presidente, mas fomos peças-chave na manutenção do seu mandato, em 2005, ao derrotarmos, nas ruas, a tentativa da direita de promover o impeachment de Lula. Naquele momento, exigimos imediata alteração na condução da economia para superarmos os entraves que dificultavam o nosso crescimento. A partir daí, o governo daria uma importante guinada, que alterou o cenário do desenvolvimento e alçou milhões de brasileiros a patamares melhores de vida.
Reforçar a perspectiva por mudanças
A lição que fica é que nada veio ou vem gratuitamente. Assim como não virá. O lema do Congresso da UJS, “Para Ser Mais Brasil”, exigirá a simbiose de organização e mobilização social, principalmente dos jovens, para avançarmos ainda mais nas mudanças recentes no país.
Não basta a continuidade. Para resolução dos graves problemas nacionais - herdados de uma elite que, na maioria das vezes, projetou a inserção subordinada da nossa economia no mundo -, vai ser preciso ter mais audácia e projeto de desenvolvimento que, dentre outras coisas, avance na promoção do emprego – oferecendo oportunidades aos jovens – e eleve a qualidade e remuneração do trabalho.
Para isso, é preciso reorientar a própria capacidade produtiva do país – e as universidades e escolas técnicas/tecnológicas terão papel central na unidade P&D (pesquisa e desenvolvimento) -, elevando consideravelmente o valor agregado da produção nacional.
Nada disso será possível, no entanto, se a direita retornar ao governo federal. Serra seria uma reedição de FHC, com sufocamento da democracia – a truculência com os professores grevistas de São Paulo deixa isso claro -, subordinação dos nossos interesses aos Estados Unidos, além de recrudescimento acentuado da pobreza e da falta de perspectiva para a juventude.
Por isso, esse Congresso da UJS ganha ainda mais destaque. O nosso convite é para que cada vez mais jovens se organizem em seus espaços de convivência e de interação para que tenham maior protagonismo na vida nacional. Somos uma organização influente, mas ainda muito aquém da necessidade que o nosso projeto de mudanças exige de nós.
Confluir com os interesses de uma considerável parcela dos jovens brasileiros é uma tarefa imperiosa. A diversidade de ações em que a juventude está envolvida exige mais aplicação nossa e participação ainda mais diversificada em seu seio, que supere, principalmente, o binômio movimento secundarista/movimento universitário.
Essas frentes de atuação também merecem mais atenção. As Jornadas de Lutas são importantes instrumentos para ecoar o nosso debate na sociedade, ajustando a questão nacional com as demandas mais mobilizadoras de cada região. Não somente isso, as Jornadas são estratégicas para nós porque reforça a cultura de mobilização, essencial para a democracia e participação popular nos destinos do Brasil.
Portanto, uma UJS mais enraizada e organizada em núcleos e direções orgânicas, construindo a política mais justa e acertada que temos para a juventude, será um caminho importante para avançarmos no país que queremos. Derrotar a direita em 2010 é aprofundar o significado desse momento positivo. Como a história já mostrou, eleger o presidente não é suficiente. A hora é de envolver parcelas cada vez maiores do povo nos destinos do país.
*Servidor público e militante da UJS-RN
A Estrada vai além do que se vê!
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