quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

O entardecer do Comandante


Estou lendo "Fidel Castro - Biografia a duas vozes", resultado de uma série de entrevistas que o Comandante concedeu ao diretor do Le Monde Diplomatique, Ignacio Ramonet. A cada capítulo compreendo melhor a importância da Revolução Cubana pra história de lutas do povo latino-americano, e o papel destacado de revolucionários como Che Guevara, Camilo Cienfuegos, Raúl Castro e, principalmente, do condutor de todo esse processo, Fidel Castro.

Nesta segunda-feira, mais um capítulo dessa história foi escrito. "Não aspirarei nem aceitarei o cargo de presidente do Conselho de Estado e de comandante-em-chefe", afirmou em carta que reproduzimos aqui, publicada originalmente no Granma.

Todo o mundo se dedica a analisar os próximos passos da construção do socialismo em Cuba. Os mais afoitos já falam que a experiência revolucionária cubana se finda com a saída de cena de seu líder maior. O governo dos Estados Unidos reafirmaram o criminoso bloqueio econômico e o ser que ocupa a Casa Branca, em dificuldades até para influir sobre sua própria sucessão, em novembro, julgou-se no direito de ditar o que deve acontecer em Cuba. Disse que "este deve ser o começo de uma transição", que, "no final", ""deve levar a eleições livres e justas, livres e justas de verdade - não esse tipo de eleições encenadas que os irmãos Castro tentam empurrar como sendo verdadeira democracia".

É tarefa de todo revolucionário defender os ideais da revolução cubana e denunciar a "democracia" de Bush e seus asseclas (os iraquianos que o digam).

Viva Fidel! Viva o povo cubano!


Mensagem do presidente cubano

Não aspirarei nem aceitarei o cargo de presidente do Conselho de Estado e de comandante-em-chefe

Queridos compatriotas:

• PROMETI-LHES na sexta-feira passada, 15 de fevereiro, que na próxima reflexão trataria de um tema interessante para muitos compatriotas. Esta adquire, desta vez, forma de mensagem.
É hora de candidatar e eleger o Conselho de Estado, seu presidente, vice-presidentes e secretário.
Ocupei o honroso cargo de presidente ao longo de muitos anos. Em 15 de fevereiro de 1976 foi aprovada a Constituição Socialista por voto livre, direto e secreto de mais de 95% dos cidadãos com direito ao voto. A primeira Assembléia Nacional foi constituída em 2 de dezembro desse ano e elegeu o Conselho de Estado e sua presidência. Antes ocupei o cargo de primeiro-ministro durante quase 18 anos. Sempre tive as prerrogativas necessárias para implementar a obra revolucionária com o apoio da imensa maioria do povo.
Conhecendo meu precário estado de saúde, muitas pessoas no exterior pensavam que a renúncia provisória ao cargo de presidente do Conselho de Estado em 31 de julho de 2006, que passei ao primeiro-vice-presidente, Raúl Castro Ruz, era definitiva. O mesmo Raúl, que, além do mais, ocupa o cargo de ministro das Forças Armadas Revolucionárias (FAR) por méritos pessoais, e os demais companheiros da direção do Partido e do Estado, se recusaram a que me afastasse do exercício do cargo, apesar de meu estado precário de saúde.
Minha posição era incômoda face a um adversário que fez todo o possível para se desfazer de mim e não me agradava nada fazer sua vontade.
Mais em diante, pude conseguir novamente o domínio pleno de minha mente e a possibilidade de ler e meditar muito, ao me ver obrigado ao repouso. Acompanhavam-me as forças físicas para escrever durante muitas horas, que alternava com a reabilitação e os programas pertinentes de recuperação. O elementar senso-comum me indicava que essa atividade estava a meu alcance. De outro lado, sempre me preocupou, ao falar em minha saúde, evitar ilusões, que caso houver um desenlace adverso, trariam notícias traumáticas a nosso povo em meio à batalha. Prepará-lo psicológica e politicamente para minha ausência era meu primeiro dever depois de tantos anos de luta. Sempre salientei que se tratava de uma recuperação "não isenta de riscos".
Meu desejo sempre foi cumprir o dever até o último alento. É isso que posso oferecer.
Comunico a meus queridos compatriotas, que, para minha honra, me elegeram há uns dias membro do Parlamento, em cujo seio deverão ser tomados acordos importantes para o destino de nossa Revolução, que não aspirarei nem aceitarei — repito — não aspirarei nem aceitarei o cargo de presidente do Conselho de Estado e de comandante-em-chefe.
Em breves cartas encaminhadas a Randy Alonso, diretor do programa Mesa-Redonda, da Televisão Nacional, que a pedido meu, foram divulgadas, alguns elementos desta mensagem que hoje redijo foram incluídos, e nem sequer o destinatário das missivas sabia de meu propósito. Tinha confiança em Randy porque o conheci bem quando era estudante de jornalismo e me reunia quase todas as semanas com os representantes principais dos estudantes universitários, o qual era já conhecido no interior do país, na biblioteca da ampla casa de Kohly, onde residiam. Hoje todo o país é uma imensa Universidade.

Eis alguns parágrafos escolhidos da carta endereçada a Randy, em 17 de dezembro de 2007:
"Minha mais profunda convicção é que as respostas aos problemas atuais da sociedade cubana, que possui uma média de instrução de 12ª série, quase meio milhão de universitários e a possibilidade real de estudo para seus cidadãos sem discriminação alguma, precisam de mais variantes de resposta para cada problema específico que aquelas contidas num tabuleiro de xadrez. Não se pode ignorar nenhum detalhe, e não se trata de um caminho fácil, se a inteligência do ser humano numa sociedade revolucionária vai prevalecer sobre seus instintos.
"Meu dever elementar não é aferrar-me a cargos, e ainda menos obstruir a posse de pessoas mais jovens, mas transmitir experiências e idéias, cujo modesto valor provém do tempo excepcional que me coube viver.
"Penso, como Niemeyer, que é preciso ser conseqüente até o fim."

Carta de 8 de janeiro de 2008:
"...Sou partidário decidido do voto unido (um princípio que preserva o mérito ignorado). Foi isso que nos permitiu evitar as tendências para copiar aquilo que vinha dos países do antigo bloco socialista, entre elas, o retrato de um candidato único, tão solitário quanto tão solidário a Cuba. Respeito muito aquela primeira tentativa de construir o socialismo, graças ao qual conseguimos ir para frente pelo caminho escolhido."
"Não esqueço que toda a glória do mundo cabe num grão de milho", enfatizava naquela carta.
Por conseguinte, trairia minha consciência se ocupasse um cargo para o qual se precise de mobilidade e de entrega total, e não tenho condições físicas para isso. Explico-o sem dramatismo.
Felizmente, o nosso processo ainda dispõe de dirigentes da velha guarda, além de outros que eram muito novos quando da primeira etapa da Revolução. Outros, quase garotos, se uniram aos combatentes das montanhas e depois, com seu heroísmo e suas missões internacionalistas, encheram de glória o país. Possuem a autoridade e a experiência para garantir a sucessão. Da mesma maneira, o nosso processo conta com a geração que aprendeu conosco os elementos da complexa e quase inacessível arte de organizar e dirigir uma revolução.
O caminho sempre será difícil e precisará do esforço inteligente de todos nós. Desconfio dos caminhos aparentemente fáceis da apologia, ou da autoflagelação como antítese. Devemos preparar-nos sempre para o pior. O fato de sermos tão prudentes no sucesso quanto firmes na adversidade é um princípio que não devemos esquecer. O adversário a derrotarmos é bem forte, mas, durante meio século, nunca lhe permitimos que passassem as raias.
Não me despeço de vocês. Apenas desejo combater como um soldado das idéias. Continuarei escrevendo sob o título "Reflexões do presidente Fidel". Será mais uma arma do arsenal com que poderão contar. Talvez minha voz seja escutada. Serei cuidadoso.Obrigado.



Fidel Castro Ruz

18 de fevereiro de 2008

17h35







A Estrada vai além do que se vê!

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