Para encerrar a sexta-feira, ao som de "Entre La Rabia y La Ternura Camarada" do músico venezuelano Alí Primera, indicação do meu camarada Paulo Vinícius, cearense arretado e revolucionário, indicamos a leitura do texto da Gilda Almeida publicado hoje na página da CTB e que reproduzo aqui.
A Antártica e a Amazônia: tudo a ver
Por Gilda Almeida, secretária de defesa do meio ambiente da CTB
A visita de Luis Inácio Lula da Silva à Estação Comandante Ferraz e ao Navio de Apoio Oceanográfico Ari Rongel, pertencentes ao Brasil na Antártica, tem grande significado. Os dois locais são instrumentos do Programa Antártico Brasileiro (Proantar). E o presidente cumprirá uma missão estratégica para a posição do nosso país no mundo. Os estudos sobre a Antártica são tão relevantes quanto as pesquisas sobre a Amazônia.
Estamos em pleno 4º Ano Polar Internacional (API), um programa que vai até março deste ano e que tem o objetivo de realizar pesquisas cientificas interdisciplinares no Ártico e na Antártica. O Ano Polar Internacional é desenvolvido pela Organização Meteorológica Mundial e conta com a participação de 63 países que realizarão 227 projetos até 2011. O Brasil, que participa pela primeira vez, desenvolve 28 categorias de estudos.
Definição geográfica
Os cientistas brasileiros já descobriram fortes evidências de que para entender o clima brasileiro a Antártica é tão importante quanto a Amazônia. Não esqueçamos que somos um país continental: o Chuí está mais perto da Antártica do que de Roraima. Temos de acompanhar estas discussões com muita atenção porque o Brasil precisa se preparar para a defesa do seu meio ambiente de forma eficiente.
Esta é uma das discussões mais inflamadas que o mundo terá de travar e superar no futuro próximo. A complexidade do assunto começa pela sua definição geográfica. A idéia dos que se julgam donos do mundo é a de que o problema se resume à esfera dos países pobres, ou “emergentes” — quando na verdade ele deve ser visto numa perspectiva mundial e histórica.
Visão reacionária
Para a visão imperialista, o problema se limita à definição de uma forma de gerar a maior riqueza possível a partir da escassez de recursos. O papel de ricos e pobres estaria bem delimitado: os primeiros entrariam com a tecnologia transformadora e os segundos com as matérias-primas. Essa visão reacionária decorre da situação de dependência de poucas matérias-primas por todas as nações e as dificuldades de provisão de energia e de alimentos.
Ela remete o problema para uma discussão literalmente acalorada. É comum ler e ouvir, por exemplo, que é uma perigosa ironia a Amazônia, último e maior santuário da vida no planeta, estar sob a guarda do Brasil e dos brasileiros. Dizem que as florestas tropicais e equatoriais teriam um futuro bem mais tranqüilo se estivessem sob jurisdição estrangeira.
Extrativismo predatório
É óbvio que a Amazônia precisa de mais cuidados. A vida dos colonos paupérrimos que profanam a floresta para ter o que comer precisa ser melhorada urgentemente. Não é aceitável que eles perpetuem a agricultura de subsistência — talvez a atividade econômica mais primitiva do homem. Ao mesmo tempo, é preciso determinar que a floresta não é lugar de fazendeiros. Nem lugar de garimpo. Nem de lavouras. Nem de rebanhos. Nem de madeireiras. Nem de empresas praticando extrativismo predatório, que possuem milhares de quilômetros quadrados na região.
Ao Brasil e aos demais países pobres, interessam medidas que levem em conta concepções regionalistas e a diversidade do mundo; e ao mesmo tempo contemplem o conjunto de elementos interdependentes e inter-ativos — basicamente a alimentação, a energia, o crescimento demográfico e a desigualdade no desenvolvimento econômico.
Floresta verdejante
No epicentro da crise ambiental que castiga o mundo está a lacuna entre países pobres e ricos, com conseqüências diretas na relação do homem com a natureza. Os ricos, que destruíram a sua natureza, não choram diante das ruínas que semearam. Ao contrário — se orgulham do que fizeram. E tentam erguer muros em torno de seus limites, deixando, se possível, os “bárbaros” de fora. Sua dominação mundial se dá por meio de uma espécie de rede gigantesca de transações e de negócios, cobrindo os continentes mais do que as nações, ignorando fronteiras e se ligando diretamente aos centros financeiros das cidades espalhadas em todas as latitudes. As forças progressistas de cada país, rico ou pobre, deveriam pensar seriamente no assunto. Numa imagem: se cada um tratar bem de sua árvore, em pouco tempo teremos uma floresta verdejante, viçosa, renovada. È preciso enfatizar, sempre, a necessidade de substituição das relações sociais e políticas de dominação imperialista pelas relações de cooperação e de solidariedade — logo, de paz mundial, de democracia. A questão ambiental se insere aí.
Amanhã estaremos de volta.
A Estrada vai além do que se vê!
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