quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Hexageradamente Flamengo

Arthur Muhlenberg*

É fundamental que se diga em primeiro lugar que esse hexacampeonato pertence à torcida do Flamengo. Sem qualquer deslustre ao sinistro Andrade, ao Imperador, Pet, Bruno, Léo Moura e aos demais guerreiros do elenco, da comissão técnica e da cartolada, esse título tem 40 milhões de proprietários legítimos. É tudo nosso, tá tudo no nosso nome. Fizemos por merecer embalando e empurrando ladeira acima nossos times, qualquer um deles, por longos e insuportáveis 17 anos. Agora é nosso dever aproveitar a temporada de tiração de onda que se abriu de forma tão sensacional.

Pensei um bocado em gigantes, Titãs, Ciclopes, Golens e Gorts. Mas nenhum deles parece reunir força suficiente e são todos meio baixinhos. Depois de encarar a pagina em branco durante quase 48 horas finalmente concluí que não adianta ficar buscando metáforas para o descomunal tamanho da nossa torcida. Diante de nós qualquer semideus ou popstar mitológico fica pequeno e desimportante. Ainda mais depois do HEXACAMPEONATO que ajudamos o Fuderosão Master Pica das Seis Galáxias a levar para nossa inimitável Sala de Troféus Lacustre. Evento que fez com que todos nós ganhássemos mais alguns centímetros em nossa já elevada estatura. Isto posto, não me resta alternativa a não ser abandonar o bom senso que nos caracteriza, parar de frescura e jogar no papel apenas o que o coração mandar.

No domingo passado, depois que a ultima rodada terminou com o Mengão na ponta da tabela o bagulho realmente ficou tenso. A semana que deveria durar apenas 17 anos simplesmente não passou. Foram séculos de unhas roídas. E nesse arrastar do tempo a torcida se ensandecia com o chororô desenfreado da arco-íris, que enxergou a luz antes que muitos rubro-negros sangue puro. Sim, o hexa foi anunciado com extraordinária antecedência pelos malvestidos. Eles perceberam na hora que o Mengão não ia dar mole. Só que a maioria de nós não percebeu assim.

Ao invés de passar a semana zoando geral a Magnética apertou seus pés por mais 7 intermináveis dias no sapatinho máximo da humildade fuderosa e esperou o apito final. Parecia que estávamos adivinhando que o jogo ia ser sinistro, dramático, neurótico e dionisíaco. E estávamos adivinhando mesmo. Não é à toa que somos a torcida do Flamengo, nós sabemos tudo.

Sabemos até que o Mengão subverte tudo em que se mete. A fórmula européia até que tenta impor sua monotonia, mas no fim se rende aos nossos poderosos caboclos. O campeonato é por pontos corridos, ou andados, é discutível. Mas sempre que o Mengão chegar a sua última partida com chances de meter o caneco o jogo se tornará uma final de mata-mata. Porque até mesmo o adversário que não quer nada da vida se empolga e quer dar show na nossa casa engalanada de vermelho e preto.

Outra coisa que a torcida sabe, mas na hora esquece que sabe é que os títulos do Flamengo seguem sempre uma fórmula. Como se fossem um roteiro de filme ou uma peça de teatro, é sempre igual. E o Grêmio parecia estar ciente de seu papel de vilão no nosso melodrama e zuou com a gente legal. Não reclamem, estava no script. Todo mundo sabe que no Flamengo é sempre assim, é tudo no perrengue.

Fizeram 1 x 0 e calaram o Maraca mais tensionado da história da forma mais cruel. Fazendo com que 100 mil pessoas dentro do estádio e 39.900.000 do lado de fora fizessem uma longa, introspectiva e agoniante reflexão sobre o real valor de se perder tanto tempo e energia com o futebol.

O roteiro é esquemático. Não bastava que o Grêmio abrisse o placar, era preciso que o Flamengo jogasse mal (mesmo porque não me parece humanamente possível que um time qualquer do mundo pudesse resistir incólume à pressão pela conquista desse hexa. Um time com tamanha importância e com uma torcida como a nossa jamais ficou tanto tempo na fila por um título, então é algo realmente novo e ainda não devidamente estudado pelos especialistas.). Com o Flamengo jogando mal a torcida começa a perceber macabros traços de semelhança com tragédias ocorridas naquele mesmo lugar. Down total, ninguém tem forças pra torcer, só pra se desesperar.

Então na hora em que as esperanças estão em seu nível mais baixo o Mengão Fuderosão Doutrinador ressurge, indômito. Vai gol de beque mesmo pra empatar e baixar a pressão. É o David, mandou benzão. No roteiro do melodrama tudo tem que se encaminhar pra um final feliz, só falta o gol do título. A cada vez que a bola chega no Impera ou no Pet a torcida acaba secando: é agora! Mas que droga, essa bola não chega!

Falta o herói se revelar numa ação ousada e decisiva. Deve ser o Impera ou o Pet, mas se for um herói modesto e humilde por natureza quem fica com a mocinha no final o melodrama fica mais clássico. Corner pro Mengão, vai lá o Pet. Vai ser olímpico, maluco! Não, caraca, jogou no bolo. Que é isso, fera? Angelim?! Gol? Gol! Goooooooooool! É o clímax. Final feliz clássico. Os créditos finais vão subindo e só então ficamos sabendo que era um remake do grande sucesso Tetra Campeonato 1987. O Fim era igualzinho. O Mengão campeão, o Interegional vice e o Ixpór na Segunda Divisão.

Pouco criativo? Não vejo dessa forma. É exatamente por isso que as pessoas viram Flamengo. Porque conseguimos enxergar no Flamengo e em sua trajetória um simulacro de nossas vidas. Onde conquistamos tudo atravessando o maior numero possível de percalços, peripécias e reviravoltas. Que testam nossa resistência, nossa força e nossa fé. Só assim dá pra festejar ao máximo cada conquista, como se nada na vida fosse mais importante. Quase isso.

O Flamengo é a vida. É bonita e é bonita.



Farmácia Popular Flamenga Vai Acabar com o Chororô

Arcoirizada safada e malvestida, seus problemas acabaram. As escoriações, lacerações e perfurações nas áreas vizinhas à região lombar e perineal não serão mais motivo de incômodo. Chegaram os medicamentos indicados para os grandes derrotados de 2009 e 1987. Recomendados pela FIFA, CBF, Rede Globo, STJD, Microsoft, Google, CIA, FBI, CSI e Fla-Manguaça. Acalmam os nervos, recuperam a memória, engrossam voz e aliviam as dores das pregas lesionadas. Escolha entre duas versões: cápsulas pra chupar ou supositórios pra sentar.

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A Estrada vai além do que se vê!

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