O “rejuvenescimento” é uma das principais marcas do novo Central Comitê (CC) do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), eleito em São Paulo neste domingo (8), último dia do 12º Congresso do partido. A participação de jovens lideranças no principal órgão de deliberação partidária saltou de 3,7% para 9,5%.
Dos 105 comunistas que integram agora o CC, nada menos que dez têm até 30 anos. Três deles já faziam parte da direção anterior (2005-2009) — a deputada federal Manuela D’Ávila (RS), o secretário de Esportes de Campinas (SP), Gustavo Petta, e o presidente da União da Juventude Socialista (UJS), Marcelo Brito, o Gavião.
A eles se somarão promessas como o goiano André Tokarski, dirigente da UJS e caçula do Comitê Central, com apenas 25 anos. Como o CC é concebido pelo PCdoB como “o vértice do sistema de direção nacional”, Tokarski acredita que os dois lados — partido e jovens — têm a ganhar com as mudanças.
“Além de apresentar propostas para a juventude, o PCdoB aponta que também quer que a juventude tenha opinião sobre os rumos do partido”, comenta o mais novo dos novos dirigentes nacionais comunistas. “Tendo jovens militantes incorporados a seu dia a dia e agora eleitos ao Comitê Central, o PCdoB traduz claramente a decisão de valorizar o olhar da juventude sobre política.”
Tokarski agrega: um partido que disputa a hegemonia não pode deixar de refletir sobre um dos contingentes mais numerosos da sociedade. “Dialogar com a juventude equivale, no Brasil, a dialogar com 50 milhões de pessoas. Sem os jovens, não haverá transformação social nem conquista socialismo.”
Trajetória própria
Outra liderança que ascende ao Comitê Central é Renata Lemos Petta, dirigente do PCdoB-SP, 27 anos de idade e sete de partido. O CC já contava com dois de seus parentes: o irmão, Gustavo Petta, e um tio, João Batista Lemos. Nepotismo? Que nada. Renata tem sua própria trajetória e reconhecimento generalizado. Iniciou sua militância no ensino médio, quando participou do grêmio estudantil de seu colégio, em Campinas, e foi diretora da Uces (União Campineira dos Estudantes Secundaristas).
Uma vez na universidade, atuou no centro e no diretório acadêmicos, presidindo em seguida a União Estadual dos Estudantes (UEE-SP). Atualmente, é membro da Executiva Nacional da UJS, além de presidente da entidade em São Paulo. Apesar do currículo, Renata enaltece, acima de tudo, o esforço do PCdoB para “formar seus jovens para o presente, não para o futuro”.
“O trabalho de juventude desenvolvido pelo PCdoB tem uma tradição muito grande e já formou muitos quadros para o movimento estudantil e também para o próprio partido. Mas, no último período, o PCdoB adotou uma postura mais aberta a grandes mudanças — o que favorece a inclusão de jovens nas direções partidárias”, analisa Renata.
Além do movimento estudantil
Gustavo Petta concorda com a irmã. Na opinião do secretário de Esporte de Campinas e ex-presidente da UNE (2003-2007), o PCdoB cada vez mais dá guarida à juventude em geral, e não só a lideranças do movimento estudantil. Prova disso, segundo Gustavo, é a eleição de Daniele Costa Silva para o CC. Aos 30 anos, ela é secretária de Juventude do PCdoB-BA, membro do Fórum Permanente sobre a Questão da Mulher e uma das coordenadoras nacionais da União Brasileira de Mulheres (UBM).
“Entre as novidades positivas, o CC mostrou essa diversidade de atuação dos jovens do partido em vários cantos do país e em diferenciadas frentes. Existem na direção jovens trabalhadores, jovens operários e mesmo jovens lideranças do movimento de mulheres, como a camarada Daniele”, diz Gustavo.
Os jovens trabalhadores têm dois representantes mais do que legítimos no CC eleito: o economista e operário, Thiago de Andrade Pinto, de 27 anos, vice-presidente do PCdoB em Curitiba; e o sindicalista Cláudio Silva Bastos, 26 anos, membro das direções da Federação dos Trabalhadores na Agricultura da Bahia (Fetag-BA), da seção baiana da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB-BA) e do PCdoB-BA.
Para Gustavo Petta, a juventude leva ao Comitê Central “contribuições que correspondem a essa nova fase” do PCdoB. “O partido que tentamos construir para os dias de hoje é mais dinâmico, mais vivo, ainda mais democrático. Esse olhar dos jovens ajuda a acelerar as mudanças e a fazer do PCdoB um grande partido de massas.”
A força que vem da UNE
Os egressos do movimento estudantil, de todo modo, prevalecem. Na nova direção nacional do PCdoB, há três ex-presidentes da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) — Manoel Rangel, Leila Márcia Santos e Gavião. O CC eleito também conta, além de Gustavo Petta, com oito comunistas que passaram pela presidência da UNE — Aldo Arantes, Aldo Rebelo, Javier Alfaya, Renildo Calheiros, Orlando Silva, Wadson Ribeiro, Lúcia Stumpf e Augusto Chagas.
Antigos e atuais líderes estudantis concordam que ocupar cargos em grandes entidades nacionais ajuda a lapidar a formação política. “Por sua diversidade e amplitude, a UNE é a maior escola de democracia do país, ensina a dialogar com o diferente e forma quadros para todos os partidos, principalmente para o nosso. O PCdoB leva a UNE muito a sério”, atesta a gaúcha Lúcia Stumpf, de 28 anos, que esteve à frente da entidade de 2007 a 2009 e é uma das novas integrantes do Comitê Central.
Augusto Chagas, atual presidente da UNE, faz coro a Lúcia. “As pessoas costumam sempre se lembrar dessas grandes figuras públicas que passam pela presidência da UNE e continuam na vida política. Mas não podemos nos esquecer dos milhões e milhões de brasileiros que já participaram do movimento estudantil — na Ubes, na UNE, nas UEEs, nos centros acadêmicos”, afirma Augusto. “Através do contato com as entidades, essas pessoas certamente agregaram à sua formação a defesa do povo brasileiro, do país, a luta por uma sociedade mais justa.”
“Fator destacado”
Com uma média etária ligeiramente menor, o CC eleito traduziu o esforço de “alcançar justa solução para o convívio geracional na vida partidária”, nos marcos do Programa Socialista para o Brasil e na Política de Quadros Comunistas para a Contemporaneidade. Os dois documentos foram aprovados no sábado (7), durante o terceiro dia do 12º Congresso.
De acordo com as resoluções congressuais, a juventude é, ao lado das mulheres, “fator destacado” na chamada “transição do capitalismo ao socialismo no Brasil”. O PCdoB deverá criar uma política de quadros específica para os jovens, que constituem uma das “bases sociais fundamentais em torno desse projeto”.
André Cintra para o Portal Vermelho
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