Danilo Moreira e Ramon Fonseca
Foto: Arquivo Pessoal
CONHECIMENTO + INOVAÇÃO – JUVENTUDE + OTIMISMO
Entrevista feita por Walter Sorrentino*
Danilo Moreira da Silva é baiano. Foi líder da UJS e da executiva da UNE em 2000. Milita no PCdoB, tem 36 anos, e é secretário nacional de juventude adjunto, desde 2006, após ter atuado intensivamente na construção das políticas públicas do governo Lula. Além de sua experiência político-partidária, Danilo é uma das pessoas que conhece a fundo a juventude brasileira. Com ele a palavra.
1) Como você avalia o panorama atual da juventude brasileira? Educação, cultura, esporte, lazer, violência, drogas, tráfico: o que é mais marcante nessa realidade?
A juventude brasileira reflete, em muitos aspectos de maneira ampliada, os paradoxos e as desigualdades encontrados na sociedade. Os jovens no Brasil foram vítimas da ausência de políticas públicas para este segmento populacional. E mesmo quando estas existiam, partiam de uma premissa equivocada segundo a qual o jovem era um indivíduo necessariamente incompleto e/ou problemático. Sendo assim, por um lado, as políticas de juventude voltavam-se (na melhor das hipóteses) para a formação visando sua “entrada” no mundo adulto, numa trajetória linear onde sucediam as seguintes etapas: estudar – trabalhar – constituir família. Por outro lado, existia (e ainda há) o paradigma da juventude-problema que entende o jovem com uma ameaça social ou como o principal responsável pelas inúmeras situações de violência existentes na sociedade. Desta visão, decorre uma série de políticas com o objetivo de controlar, enquadrar e reprimir a juventude.
Por conta disso, se observarmos a fotografia da juventude brasileira no que diz respeito ao acesso a direitos básicos com educação, cultura, trabalho, participação, esporte e lazer, vamos nos deparar com situações ruins e, em alguns casos, alarmantes. Pois, na verdade o que prevalecia até bem pouco tempo atrás era a despolítica de juventude.
2) Vamos quantificar alguns dados dessa realidade…
No Brasil, a violência ocasiona altas taxas de mortalidade entre jovens, justamente no período etário de 15 a 29 anos, que deveria ser um dos mais saudáveis do ciclo vital. As causas externas (acidentes trânsito, homicídios, principalmente) são responsáveis por mais de 61,3% das mortes de nossa juventude.
Dados do IPEA, de abril de 2008, indicam que cerca de 34% dos jovens entre 15 e 17 anos ainda estão retidos no ensino fundamental, quando deveriam estar no ensino médio.
Em 2006, enquanto a taxa de desemprego era de 5% entre adultos de 30 a 59 anos, observavam-se índices de 16,7% entre os jovens de 18 a 24 anos e 9,5% na faixa de 25 a 29 anos.
Ainda segundo a PNAD 2008, temos uma manutenção ou evolução positiva na educação. A porcentagem de jovens analfabetos não sofreu alteração percentual nas faixas de 15 a 17 (0,10%) e 18 a 19 (0,07%) permanecendo estável em relação à PNAD anterior. A porcentagem de jovens analfabetos nas faixas de 20 a 24 caiu de 0,26% para 0,24% e na faixa de 25 a 29 caiu de 0,41% para 0,38%. Proporção de jovens entre 18 e 24 com 11 anos de estudo aumenta de 18,1% em 1998 para 36,8 em 2008. Número de jovens entre 18 e 24 anos que freqüentam o ensino superior cresceu de 6,9% em 1998 para 13,9% em 2008.
3) O Brasil teve duas décadas perdidas em termos de desenvolvimento. Sem desenvolvimento fica difícil equacionar qualquer demanda social hoje presente. Seguiu-se uma década terrível de políticas neoliberais, de dessolidarização, individualismo, competição entre os “incluídos”, salve-se-quem-puder entre os “excluídos”. A arte dos grafiteiros, o cinema e o hip hop expressaram esse lado da questão. Penso assim: não era de se esperar que em poucos anos essa realidade pudesse ser revertida; mas pergunto: ela será revertida?
De fato a estagnação ou as baixas taxas de crescimento econômico, especialmente nos anos 90, impactaram fortemente na juventude. Não só pelos altos índices de desemprego (duas vezes maior nesta faixa etária), mas pela incapacidade dos governantes de então de reconhecer, valorizar e apostar na juventude como parte de nossa estratégia de desenvolvimento econômico e social. Mas como fazer isso, quando o que imperava era o dogma do estado mínimo? Sobravam apenas as chamadas políticas compensatórias para os jovens extremamente pobres e a desesperança quase absoluta para os demais. Basta assistir novamente à Terra Estrangeira, um dos primeiros filmes de Walter Salles, para ter ideia. O pessimismo e descrédito em nossa capacidade enquanto povo e em nosso potencial enquanto Nação transformava-se em um exacerbado individualismo, típico do período neoliberal.
Nos últimos anos, durante o governo do Presidente Lula, temos presenciado, também na juventude, significativos avanços. Com a criação da Secretaria e do Conselho Nacional de Juventude, em 2005 passamos a trabalhar por uma transição de paradigmas. Nosso objetivo é superar a visão juventude-problema, afirmando o jovem como um sujeito de direitos e, portanto, merecedor do reconhecimento e investimento por parte do Estado brasileiro. É notório o surgimento de uma variedade de políticas públicas que visam assegurar direitos aos jovens nas mais diversas áreas. Projovem, Pontos de Cultura, Praças da Juventude, expansão do ensino técnico, Soldado Cidadão, Projeto Farol, Prouni etc. Além disso, estabelecemos uma relação de diálogo permanente com os segmentos organizados da juventude e demais organizações da sociedade que atuam neste tema. A existência de um Conselho Nacional (com maioria da sociedade civil) e a realização da 1ª Conferência Nacional de Juventude (com 400 mil participantes) são os melhores exemplos.
Em 2008, foi divulgada uma pesquisa (Instituto Gallup/Fundação Getúlio Vargas) que apontava a nossa juventude como a mais otimista do mundo. Entre 132 países ficamos em primeiro lugar e numa escala de 0 a 10, a nota Brasil foi 8,78, quando perguntado ao jovem se ele achava que sua vida iria melhorar nos próximos cinco anos. Isso não significa, porém, que temos a juventude com melhor condição de vida do mundo, aliás estamos muito distante disso, mas não podemos deixar registrar este resultado. Por isso quando projetamos o Brasil como a 5ª economia do mundo entre 2016-2020, como afirmou o Presidente Lula, devemos incluir neste projeto a meta de sermos também, a 5ª melhor sociedade.
4) Um terceiro governo de marcas nacionais e populares, além de democráticas, tem condições de aprofundar a mudança de realidade para a juventude? O que está pensado nesse sentido?
Antes de tudo precisamos reconhecer que a atual geração política é uma geração vitoriosa. É uma geração que participou do surgimento do Fórum Social Mundial, foi às ruas contra a invasão do Iraque pelos EUA, resistiu ao neoliberalismo, elegeu e reelegeu um operário pra Presidência da República, contribuiu diretamente com os inúmeros avanços políticos, econômicos e sociais nos últimos sete anos. Não podemos enfrentar a batalha de 2010 sem este reconhecimento.
Do ponto de vista político, e da esquerda, é importante percebermos que necessitamos realizar uma equilibrada e ousada transição geracional. Precisamos encontrar uma equação que permita fortalecer a capacidade mobilizadora da juventude e, ao mesmo tempo, promover os jovens em espaço de poder e tomada de decisão. A título de exemplo, fizemos um levantamento na Secretaria Nacional de Juventude e descobrimos que desde a redemocratização o número de jovens deputados federais ficou em torno de 2%. Considerando que 26% da população brasileira é composta por jovens e tendo em conta o histórico de participação deste segmento, podemos falar em uma verdadeira exclusão política de juventude. Para ir um pouco mais além, colocaria também esta questão às direções partidárias, ao movimento sindical e de mulheres.
Por outro lado, precisamos reconhecer que ainda temos uma enorme dívida social com a juventude brasileira. Diversos indicadores demonstram isso. Número de jovens desempregados, mortes por causas externas (armas de fogo e acidente de trânsito), crise e evasão no ensino médio, etc, etc.
No entanto, se pensarmos em uma sociedade onde o conhecimento e a inovação são indispensáveis para seu desenvolvimento. Se pensarmos em um mundo cada vez mais “dependente” das novas tecnologias da informação e comunicação, de qual público lembramos? Por isso, não podemos limitar as políticas de juventude ao campo das chamadas políticas sociais e, mesmo estas, têm que estar articuladas com políticas mais estruturantes e sintonizadas com uma visão contemporânea de desenvolvimento nacional.
Para o avanço de um Projeto Nacional transformador, não devemos ver a juventude apenas como a face mobilizadora da nossa luta política ou então como destinatária de políticas sociais. Temos que ampliar nosso horizonte e incluir este segmento em nossa estratégia de desenvolvimento nacional combinando presente e futuro. Estamos falando em mais de 50 milhões de brasileiros entre 15 e 29 anos. Precisamos acelerar nossa transição de paradigmas. Superar a visão da “juventude-problema”, reconhecer o jovem com “sujeito de direitos” e apostar no jovem com “sujeito de mudanças”.
5) Por que o PCdoB tem esse protagonismo todo entre a juventude?
Atribuo nosso protagonismo entre a juventude à combinação alguns motivos: o primeiro é o nosso compromisso a melhoria das condições de vida do povo brasileiro, que nos torna automaticamente comprometidos em lutar ao lado de milhões de jovens que também sofrem as conseqüências do capitalismo. O segundo motivo é tradução deste compromisso em uma ação consciente, permanente e prioritária das direções partidárias que sempre buscaram desenvolver política e organizativamente nossa ação entre a juventude. Vide a experiência de 25 anos da UJS. Um terceiro motivo, talvez o mais importante, é que o PCdoB talvez seja uma das forças políticas que mais acredita no Brasil enquanto nação e no povo brasileiro enquanto construtor deste destino. Em nossa luta contra as injustiças sociais, não abdicamos ou subestimamos a questão nacional e esta atitude guarda uma fina sintonia com o sentimento da juventude brasileira.
A Estrada vai além do que se vê!
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