sexta-feira, 16 de maio de 2008

Caravana da Anistia aterrisa na Praia do Flamengo

Acabei de receber da minha combativa amiga flamenguista Luana Bonone, 1ª Diretora de Comunicação da União Nacional dos Estudantes (UNE), os relatos da sessão da Caravana da Anistia que rolou ontem no terreno da UNE e da UBES na Praia do Flamengo, 132. É a história fazendo justiça àqueles e àquelas que lutaram pela democracia no nosso país.


Memória 68: Caravana da Anistia é realizada no terreno da UNE e UBES, na Praia do Flamengo, 132.

Sessão da Caravana julga processos de estudantes perseguidos durante ditadura militar, um importante passo para a consolidação da democracia brasileira

Aconteceu nesta quinta-feira (15), no terreno da UNE e da UBES na Praia do Flamengo, 132, a sessão da Caravana da Anistia, que julgou processos para anistiar cinco ex-militantes estudantis perseguidos durante a ditadura militar.

Na mesa de abertura estavam presentes, o presidente da Comissão de Anistia Paulo Abrão; o ministro da Justiça Tarso Genro, o presidente nacional da OAB César Brito, a presidente da UNE Lucia Stumpf, o presidente da UBES Ismael Cardoso e o presidente da UEE-RJ Daniel Iliescu.

O ato teve início com homenagens pós morten a Honestino Guimarães, desaparecido durante o regime militar, e Elza Monnerat, militante do Partido Comunista e da Guerrilha do Araguaia.

Durante a sessão de abertura foi assinada a portaria que cria o Memorial da Anistia Política no Brasil, pelo ministro da Justiça, que será constituído por centro de divulgação e centro de documentação, divulgando acervos históricos dos períodos de repressão compreendidos entre 1946 a 1988. Ainda promovera ações de fomento a pesquisa e publicação de materiais sobre a luta pela democracia no Brasil. Até 2010 será viabilizada a construção da sede para abrigar o Memorial.

O Ministro Tarso Genro parabenizou o trabalho que está sendo realizado pela Comissão de Anistias e o considerou de extrema importância para o processo de construção e consolidação da democracia. Ele também fez uma referência a Aldo Arantes, ex-presidente da UNE que sofreu as violências e as torturas da ditadura nos cárceres da operação bandeirante.

“A democracia propõe uma nova forma de convívio, respeitando as diferentes opiniões. A função da Caravana da Anistia é reparar de alguma forma a dor daqueles que perderam seus entes queridos e não puderam velar seus corpos” – disse Tarso Genro.

“A anistia não é esquecimento, não é retribuição financeira, anistia é um processo integrante da Constituição, um processo efetivamente democrático” -reforçou ainda.

O ministro da Justiça considera fundamental que se abram os arquivos da ditadura e que não se sonegue o debate ideológico sobre a ditadura militar.

O presidente da Comissão de Anistia Paulo Abrão, também citou, durante a cerimônia de abertura, que “a anistia é um ato de reconhecimento, e o momento de desvelar uma série de episódios da nossa história, para que possamos construir uma democracia sob bases sólidas”.

“Assim poderemos seguir adiante com o progresso de nosso País, e ter consciência de que temos contas para acertar com um conjunto de brasileiros e brasileiras. Trata-se de fato de uma dívida política e enquanto o último perseguido político não for anistiado, não teremos no Brasil uma democracia consolidada” – reforçou Abrão.

Após o ato de abertura, o grupo de teatro Tá na Rua e o Circuito Universitário de Cultura e Arte (CUCA) realizaram uma encenação de importantes acontecimentos do movimento estudantil de 1968, como a morte do estudante Edson Luiz. Eles fizeram também, apresentações musicais e intervenções culturais, que fecharam a abertura do evento.
A partir das 15 horas, foram realizadas as sessões de julgamento da Caravana, onde a Comissão de Anistia irá analisar seis casos de estudantes perseguidos durante o período de 68.

Os estudantes perseguidos durante a ditadura militar são:

Edson Menezes da Silva, que integrou o movimento estudantil contra a ditadura. Era estudante de economia da UFBA e militante da Ação Popular (AP). Durante o período, ajudou a fundar o Instituto dos Economistas da Bahia, que era alvo constante de repressão por parte dos militares.

Dione Damasceno, que foi presa em 1972 e acusada de praticar atividades subversivas. Cursava Medicina na UFG e durante o período foi interrogada e torturada. Exilou-se na Suécia em 1975 e retornou ao Brasil em 1983.

Mário Magalhães Lobo Viana que teve sua matrícula suspensa na UFRJ por ser considerado subversivo. Foi um dos nove estudantes presos no Maracanãzinho durante o show de Geraldo Vandré, por distribuir panfletos que conclamavam o público a apoiar o músico, que compunha canções que criticavam a ditadura.

Celso Pohlmann Livi, que está requerendo declaração de anistiada política pós morten de sua esposa Solange Lourenço Gomes. Ela teve destacada militância política entre os anos 60 e 70, foi presa e submetida a sessões de tortura. A comissão especial de mortos e desaparecidos políticos, instituída pela lei 9.140/95, reconheceu a responsabilidade do estado brasileiro pela tortura e conseqüente morte sofrida por Solange.

Ana Maria Santos Rocha que era aluna de Psicologia da UFBA e foi militante estudantil. Atuou no PCdoB a partir de 1973. Por conta das perseguições, perdeu o emprego e exilou-se na Albânia, retornando ao Brasil em 1980.

E finalmente, Olívia Rangel Joffily, militante do movimento estudantil paulista e atuou também na Ação Popular (AP). Foi perseguida, abandonou o curso de Ciências Sociais na Unicamp e seu emprego, passou a viver na clandestinidade e partiu para o exílio retornando ao Brasil em 1979.

Os casos foram julgados um a um, durante todo o dia e os resultados serão divulgados ainda hoje.

Memória de 68
Esse ato faz parte do evento "Memória 68: 40 anos depois", que prevê a realização de intervenções culturais, debates e atos políticos que reunirão artistas, intelectuais, políticos, lideranças sociais e estudantes. O CUCA, em parceria com o Ministério da Cultura e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), está realizando neste mês de maio uma série de eventos nas principais capitais do país em alusão e homenagem às lutas históricas do movimento estudantil brasileiro no ano de 1968.


Texto e imagens: Portal Estudantenet

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