quarta-feira, 22 de julho de 2009

O novo presidente da UNE

O estudante de Sistemas de Informação da Universidade de São Paulo (USP) Augusto Chagas, de 27 anos, vai comandar pelos próximos dois anos a União Nacional dos Estudantes (UNE), uma das mais importantes e tradicionais organizações da sociedade civil brasileira. Em entrevista a Darlene Santiago, da Secretaria de Comunicação da UnB, o novo presidente, eleito com 71,8% dos votos pela chapa "Avançar nas mudanças", fala sobre as prioridades da nova gestão e opina sobre programas educacionais.

UnB Agência: Quais propostas serão prioridade na atual gestão?

Augusto Chagas: Temos três pautas que são fundamentais. Vamos defender a aprovação do nosso projeto de lei, com relação à reforma universitária, que trata sobre a regulamentação do ensino privado. É um projeto muito complexo, com pautas ligadas à assistência estudantil. Propomos um sistema nacional de assistência estudantil, com a criação de uma bolsa para atender estudantes carentes. A segunda prioridade é a questão da meia-entrada. A última legislação é de 2001, é um sistema sem controle. Queremos uma nova regulamentação. O projeto em trâmitação na Câmara dos Deputados hoje estabelece uma cota de 40% para meia-entrada, vamos lutar para a retirada dessa restrição. Também queremos construir o prédio sede da UNE no Rio de Janeiro, com o projeto de Oscar Niemeyer.

UnB Agência: O que falta nas universidades brasileiras?

Augusto Chagas: Mais jovens. Mais vagas. Temos um déficit muito grande de acesso, apenas 13% dos jovens entre 18 e 24 anos conseguem ter o ensino superior. Queremos um ambiente mais democrático e que construa um cidadão mais completo, não só um profissional que tem compromisso com a carreira, mas com a sociedade.

UnB Agência: A UNE vai apoiar a reforma curricular nas universidades?

Augusto Chagas: Sim. A UNE defende as reformas curriculares. Acreditamos que os currículos são muito tecnicistas, voltados para especialização profissional. Um curso de computação, por exemplo, forma um profissional que sai da universidade preparado para realizar apenas aquela profissão. Precisamos formar pessoas com uma cidadania mais completa.

UnB Agência: E o novo Enem, unificado, qual a sua posição?

Augusto Chagas: Acho que é um avanço. Vestibular é um dos instrumentos mais atrasados para a universidade. Historicamente, ele seleciona aqueles que tiveram acesso a bons colégios pagos e cursinhos preparatórios, ou seja, os setores mais elitizados. Queremos uma prova que possa se preocupar menos com aquele conteúdo decoreba e técnico, que aposte mais na interpretação e interdisciplinaridade. Poderíamos somar isso a processos de seleção seriada, aprovar reservas de vagas para estudantes de escolas publicas.

UnB Agência: A UNE é a favor das cotas?

Augusto Chagas: Devemos ter cotas de critério social, para estudantes de escolas publicas e, dentro desse publico, a gente defende o critério do IBGE para que negros e indígenas possam ser representados nessa parcela. Acreditamos que, dentro da reserva social, é possível também estabelecer critérios raciais.

UnB Agência: E o Prouni?

Augusto Chagas: É um projeto avançado que regulamentou a filantropia no Brasil e principalmente é um programa que colocou dentro da universidade mais de 400 mil brasileiros. Muitas vezes, são brasileiros que são o primeiro da família a ter ensino superior. O programa populariza a universidade, defendemos a duplicação e ampliação dele.

UnB Agência: E o Reuni? O que falta a ele?

Augusto Chagas: Por um lado é interessante, porque o Reuni prevê a ampliação da universidade pública no Brasil. Porém, ele se estabelece no interior de cada universidade. Ele é aprovado pelo conselho daquela universidade. Há projetos muito avançados e outros que tem características mais conservadoras, que não popularizam a universidade. Nossa proposta é disputar os projetos no interior de cada universidade, acompanhar a utilização e destino dos recursos públicos.

UnB Agência: Com a reconstrução da sede da UNE no Rio de Janeiro, o que mudará?

Augusto Chagas: Vamos celebrar uma pauta muito antiga. Há décadas, a UNE luta para reconquistar aquele espaço. É motivo para uma grande celebração, tem um componente histórico muito importante, representa um passo para democracia no pais. Será um espaço de referencia, um espaço cultural no Rio. Ainda não discutimos sobre a utilização dele. Mas seria excepcional se a UNE pudesse ter uma sede em cada capital do país, seria possível ampliar a atuação do movimento estudantil.

UnB Agência: Você acha que a sua filiação ao PCdoB interfere na sua atuação? De que maneira?

Augusto Chagas: Sou filiado e essa filiação se dá mais pela identificação com as ideias do partido. A atuação na UNE tem mais a ver com o movimento estudantil. Eu vejo que a liberdade de as pessoas se filiarem é muito positiva. Não considero que a filiação interfira na direção da UNE.

UnB Agência: Você é o décimo presidente da UNE filiado ao partido. O que isso representa para a entidade?

Augusto Chagas: Representa que o PCdoB tem muita tradição de opinião com a juventude do Brasil. Quem elege os presidentes da UNE não são os partidos políticos, são os estudantes da UNE. Acho que existe uma tradição de ideias na atuação, na atuação do movimento social.




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