por Eleonora Rigotti*
Eu vou votar na Dilma e todo mundo sabe disso, não é segredo. Os meus amigos também vão. Alguns professores também. O cobrador do ônibus que eu pego todo dia também. Mas a minha mãe não vai. É triste, mas a pessoa mais importante do meu mundo não vai votar na Dilma! Paulista de nascimento, aos 59 anos ela enche o peito pra dizer que “bom é o Geraldinho. Serra é competente e o Aécio, ah o Aécio!” Posso ouvir os suspiros de quem se sentiu abandonada com a recusa do mineiro em ser vice do Serra. Esse, pra ela um senhor de respeito, confiável. Geraldinho é quase íntimo lá em casa. Médico, um homem sério “e não um agitador de porta de fábrica”, ela diz.
Dona Alice faz parte dos milhões de brasileiros que não sabe o que é déficit zero, superávit primário, reforma política ou neoliberalismo. Ela nem sequer imagina que no Brasil há 78 partidos políticos registrados no TSE. Por isso as siglas não significam nada pra ela. Ela simplesmente não gosta da Dilma “essa mulher é tão brava que parece um homem”, nem do Lula “o agitador do ABC”.
Nascida e criada no interior de São Paulo, numa família humilde, aprendeu desde cedo que pra ser alguém na vida precisa ter diploma. Precisa vestir terno e falar bonito. Em 1968 tinha 18 anos e já morava em São Paulo, fazia parte da massa de jovens que trabalhava nas lojas de departamento da já pulsante metrópole. Não estava nos corredores da USP nem do Mackenzie. Ouvia Jovem Guarda no intervalo do almoço e não entendia o porquê daquela confusão toda nas ruas. Não leu Marx nem Gramsci. Foi a vários shows do Erasmo Carlos, mas a nenhum Congresso da UNE.
Se eu já tentei convencê-la a mudar de opinião? Inúmeras vezes. Já falei sobre o Bolsa Família, sobre as relações internacionais do Brasil, sobre o Segundo Tempo, sobre o PROUNI. Não adiantou. Quando ousei falar sobre o REUNI, sobrou pra mim: “Se o REUNI é tão bom e expandiu as vagas da UFU (Universidade Federal de Uberlândia), [na qual estudei] então porque você trocou a UFU pela USP? A USP é do Geraldinho e do Serra mocinha!” Como a relação mãe e filha nem sempre é das mais racionais e tranquilas, preferi não continuar a discussão. Não era apenas o voto que estava em disputa, mas a harmonia familiar.
Minha mãe, assim como milhões de brasileiros, infelizmente não está acostumada a ver representantes do povo no poder. Infelizmente ainda acredita que a USP é do Geraldinho e o Bolsa Família é do Lula. É certo que stricto sensu são, mas eu sonho e luto para que sejam, cada dia mais do povo. Moldadas pelo dia a dia daqueles que deles se empoderam. Assim como filhos são muito de seus pais, espero que, como eu, possam divergir com respeito e seguir seus próprios caminhos.
Sábia que só ela, tomara que dessa vez (e só dessa vez) ela esteja errada em sua escolha. Embora ela mesma diga, ainda que resignada, que “ O povo gosta mesmo do Lula. Gosta mais dele que do Silvio Santos! Eu sei que a Dilma vai ganhar”.
A Dilma não conhece a minha mãe, mas se conhecesse a conversa bem que poderia começar assim: “Você não gosta de mim, mas sua filha gosta!”.
*Eleonora Rigotti é estudante de Gestão de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo (USP) e integrante do Centro e Circuito Universitário de Cultura e Arte (CUCA) da UNE.
A Estrada vai além do que se vê!
Um comentário:
Minha mãe não é politizada, apesar de já ter participado de manifestações em movimentos grevistas (ela é professora da rede estadual de ensino em Governador Valadares, no Leste de Minas, e já protestou contra tudo que é governo estadual aqui. Só de PSDB, já são 8 anos seguidos, além do Azeredo na década de 90). Não tem preferência ou rejeição a partidos (apesar de ter se filiado ao PTB, numa época em que ela pensou em concorrer para vereadora). Já votou contra e já votou a favor do Lula. Depois de tantos votos contrários, o que fez com que ela votasse no Lula foi o Prouni, porque ela conhece um amigo da minha irmã, que só pôde cursar universidade graças ao programa.
Não sei em quem ela vai votar, mas espero que seja na Dilma.
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