sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Líder do Nove desmente Isto É e diz que não é contra UNE e UBES

À direita, Carolina Delamare, liderança do Nove
Foto: Michel Filho - O Globo

Grandes veículos de comunicação brasileiros têm dado bastante atenção a mobilizações da Nova Organização Voluntária Estudantil (Nove). Não satisfeitos em divulgar as divergências deste movimento com a União Nacional dos Estudantes (UNE) e União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), veículos distorcem e até inventam informações para forçar uma “divisão” no movimento estudantil. Liderança estudantil desmente grande mídia e afirma que nova orgnização criada não é contra a UNE e a UBES.

O Nove é um movimento que surgiu no dia 1° de outubro, diante da notícia do vazamento e conseqüente adiamento da data da prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Na ocasião, estimulados por seus professores, 12 estudantes de escolas particulares da zona sul do Rio de Janeiro se articularam por ligações e mensagens de telefone celular e se reuniram para organizar uma manifestação de protesto por conta do vazamento e adiamento da prova do Enem, que neste ano terá mais impacto no resultado dos exames de seleção para as universidades. O Nove conta hoje com cerca de trinta escolas e um comitê de organização com pouco mais de trinta membros, que se reúnem semanalmente.

Jovens de classe média de escolas particulares de uma grande capital brasileira protestando (no caso, justamente) contra o governo federal e ainda criticando a UNE e a UBES. Este conjunto de fatores forneceu um prato cheio para os grandes barões da mídia brasileira distorcerem o movimento, inventando fatos e rotulando suas ações.

O "Nove" veio depois do "8"?
A Isto É foi a campeã. Publicou uma nota do jornalista Octávio Costa dizendo que o movimento “parece” ter se inspirado no MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de outubro) e, na mesma edição, uma reportagem em que a jornalista Larissa Domingos defende que “a divisão do movimento estudantil é apenas uma parte do prejuízo político do governo com a fraude [no Enem]”. Na reportagem, o tempo inteiro o Nove aparece como uma contraposição e um questionamento à UNE e à UBES.

Entretanto, a liderança do Nove Carolina Delamare, figura presente em todas as reportagens a respeito do movimento, desmente grande parte dessas informações. A estudante, que inclusive já foi membro do grêmio de sua escola, Santo Inácio, garante que não existe qualquer referência ao Movimento Revolucionário Oito de Outubro (MR-8), embora faça questão de ressaltar que conhece e respeita a corrente política. Segundo Carolina, o nome do movimento tem a intenção de apresentar uma novidade: “queríamos um nome que demonstrasse que a nossa organização não vem substituir nenhuma existente, e é diferente todas que existem... é uma alusão à palavra ‘nova’.”

Na mesma linha, Carolina desmente a versão de “divisão do movimento estudantil”. Ela conta que teve o cuidado, inclusive, de ligar para o presidente da UNE, Augusto Chagas, para explicar a concepção do movimento: “não temos conflito com UNE e nem com a UBES. Discordamos de algumas linhas que seguem, mas não viemos para criticar ninguém, viemos para defender a Educação, que é elemento fundamental para construir um país, uma nação com cidadãos conscientes”. E completa: “somos apartidários, mas algumas mídias divulgaram que seríamos apolíticos, é absurdo, porque nossa atitude não deixa de ser política.”

UNE apóia iniciativas como a do Nove
O presidente da UNE, Augusto Chagas, também não encara o surgimento do Nove como uma ameaça ao papel da UNE e da UBES: “A UNE apóia o surgimento de movimentos. Isso acontece a todo momento, no país todo, e é positivo. É a tradição dos estudantes brasileiro, que se mobilizam, lutam, ainda mais quando a razão é justa, como é o caso. Incentivamos e procuramos ajudar no que foi possível. Não compreendemos como algo concorrente com o papel da UNE. A UNE e a UBES são entidades de representação, elegem suas respectivas diretorias em congressos. A UNE e a UBES não concorrem com outros movimentos e organizações, pelo contrário, nós apoiamos e achamos salutar ao movimento estudantil que seja assim”. Augusto completa dizendo que a UNE e a UBES não querem ser “proprietárias” de todos os atos e manifestações dos estudantes e da juventude e saúda o fato de ter ocorrido uma mobilização por uma causa justa, em que há convergência de opiniões.

Carolina afirma que o Nove surgiu a partir de uma questão pontual, que foi o adiamento da prova do Enem, segundo ela, “reflexo de um longo processo anterior errôneo”, mas que o movimento quer fazer mais que criticar o descuido do governo, do MEC: “apenas falar deste descuido não seria suficiente, queremos reformas estruturais da educação”. Ela diz qe moviento surgiu porque as entidades de representação estudantil não puxaram passeata na ocasião. Augusto esclarece ainda que a UNE e a UBES se posicionaram e mobilizaram desde que foi divulgado o adiamento da prova do Enem. “Além de publicar notas de opinião, participamos de atos por todo o país, em diversas cidades, inclusive no Rio de Janeiro, e chegamos a organizar alguns nas universidades de São Paulo que decidiram não adotar o Enem como parte do processo seletivo por conta do adiamento”.

UBES já havia criticado pressa em implementar o novo Enem
O presidente da UBES, Ismael Cardoso ressaltou que a entidade já havia criticado a pressa do MEC em implementar o novo modelo do Enem que unifica os vestibulares. Ismael defende ainda que o debate sobre a nova forma de ingresso na universidade não pode ser enterrada devido às falhas na implementação do processo. “A maioria das universidades que aderem ao Enem como parte do processo seletivo, no final das contas ajudam estudantes da escola pública a ter acesso às vagas”.

O presidente da UNE rebateu ainda às críticas do Nove de que a UNE e a UBES estariam distantes da sala de aula: “O movimento estudantil, naturalmente, tem uma volatilidade razoável. Por serem organizações compostas por estudantes, em que as direções se renovam todos os anos, em geral, onde a UNE e a UBES chegam, onde as entidades são mais fortes ou mais fracas, depende muito das lideranças locais. O fato de, na escola Santo Inácio, por exemplo, a UBES estar chegando pouco, não pode ser referência para definir se a entidade está forte ou não. A UBES representa 50 milhões de estudantes. Trata-se de uma questão conjuntural daquelas escolas. É natural que as entidades se fortaleçam e se enfraqueçam constantemente. Mas é claro que temos muito o que caminhar para aglutinar o conjunto dos estudantes brasileiros. É o desafio da UNE e da UBES, e não é fácil. Quando a Carol me ligou, por exemplo, eu a convidei para nossa próxima mobilização em Brasília, em defesa de 50% da verba do fundo social do pré-sal para a Educação, pois isto é o que temos que fazer enquanto entidades”.

A presença de organizções polítcas no movimeto estudantil
Carolina respondeu que o Nove não poderia ajudar a mobilizar o ato em Brasília porque neste fim-de-semana tem vestibular da PUC-RJ. Outra crítica à UNE que a estudante apresenta é a suposta vinculação com partidos políticos. Para Augusto, entretanto, a paticipação de organizações políticas dentro do movimento estudantil sempre ocorreu, nos 72 anos de vida da UNE, sem prejuízo da participação de quem não se organiza em grupos políticos.

O presidente da UNE acredita que essa presença de organizações políticas é que fez a UNE ter o papel que teve na história do país. “É porque existiam organizações que pautaram o que pautavam, foi isso que fez a UNE contribuir com grandes agendas nacionais e ser esta entidade histórica, forte”. Ao mesmo tempo, Augusto diz que não é contraditório e enfatiza a defesa da independência das entidades estudantis em relação a estas mesmas organizações. “Fundamental é que a entidade se mantenha independente em relação a estas organizações e tenha seus próprios fóruns, que devem ser democráticos e respeitar a variedade de pensamentos. Neste sentido, acho que a UNE tem cumprido seu papel e tentado cada vez mais ampliar o seu debate e a sua democracia”. Augusto esclarece ainda que, mesmo na UNE, há grupos políticos organizados que, como o Nove, não são partidários, tratam-se de organizações juvenis com caráter político e inclusive agrupamentos específicos de uma única universidade ou de uma região.


Luana Bonone para o Portal Vermelho
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