terça-feira, 19 de agosto de 2008

A voz da juventude porto-alegrense

Trajetória notável: Manuela faz 27 anos com propostas fortes

A candidata à Prefeitura de Porto Alegre, Manuela D'Ávila, da coligação Porto Alegre É Mais (PCdoB-PPS-PR-PTdoB-PMN-PSB-PTN), completou 27 anos nesta segunda-feira (18). A trajetória da candidata impressiona. Ela é a mulher mais votada de todas eleições que disputou. Para Berfran Rosado, candidato a vice-prefeito na chapa de Manuela, ''é uma honra conviver com uma pessoa que tem uma intensa experiência política, tendo sido vereadora e agora deputada federal, e ao mesmo tempo inovadora e jovem''.

Manuela iniciou sua trajetória na União da Juventude Socialista (UJS), em 1999. Em 2001, foi diretora da UNE e, em 2004, foi eleita a vereadora mais jovem e mais votada de Porto Alegre. Na Câmara Municipal, ela presidiu a Comissão de Educação, integrou a Frente Parlamentar em Defesa da Criança e do Adolescente e aprovou diversos projetos, como a meia-entrada para jovens e estudantes em espetáculos culturais, esportivos e de lazer.

Apenas dois anos depois, em 2006, com 271.939 votos, Manuela foi eleita a deputada federal mais votada do Brasil. Na Câmara dos Deputados, foi relatora da nova Lei dos Estágios, propôs a lei que garante a transparência da gestão fiscal com gastos públicos e o projeto de lei que aumenta a pena dos crimes cometidos próximos a escolas e hospitais.

''O entusiasmo com que fala das mudanças que empreenderá na capital é contagiante e característico de quem não se conforma com a situação atual. Manuela tem legitimidade para querer mudar a cidade, pois a conhece muito e vive cada recanto de Porto Alegre'', lembra Berfran.

A concorrida festa de aniversário de Manuela já se tornou uma tradição na cidade, reunindo sempre grandes lideranças políticas nacionais e muito apoio popular. Neste ano, a notável comunista comemorará seu aniversário no dia 5 de setembro no Clube Farrapos.

Em entrevista ao Jornal do Comércio, Manuela fala de como foi possível construir a mais ampla aliança da eleição portoalegrense de 2008. Para a candidata, há falsos dilemas nas soluções de antigos problemas da capital. Segundo Manuela, o principal problema de Porto Alegre hoje é a saúde. A comunista diz ainda que sua atividade parlamentar a credencia para assumir o cargo de prefeita.

Veja, abaixo, a íntegra da entrevista:

Qual o principal problema de Porto Alegre?

Manuela D'Ávila - A ineficiência na gestão da saúde. Porto Alegre produz saúde de excelência, tecnologia de ponta. Mas temos 700 mil pessoas que não recebem atendimento preventivo e primário do SUS (Sistema Único de Saúde). O PSF (Programa de Saúde da Família) reduz em 90% o gasto no atendimento de média e de alta complexidade na rede de saúde. Para chegarmos a 300 equipes, que é a meta que deveríamos atingir, segundo o Ministério da Saúde, teríamos um aumento de 3,44% no orçamento da Secretaria da Saúde. E isso resolve de 80% a 90% dos problemas de saúde. Como uma cidade com três faculdades de Medicina, sem contar as de Enfermagem, com tantos hospitais e profissionais famosos não se resolve isso? É um problema grave de gestão, relacionado à administração municipal. E, infelizmente, há oito anos esse era o principal problema, há quatro anos continuava a ser, e hoje continua sendo.

Que outras medidas são necessárias?

Manuela - É urgente a informatização da saúde. Não consigo entender como não informatizamos a nossa rede de postos e hospitalais. Hoje, a população leva meses para conseguir uma consulta. Não é lógico que sobrem 42% das consultas nos hospitais e que as pessoas esperem seis meses para ter um exame. Então, também a informatização, a central de consultas de exames passa pela gestão da saúde. O governo do estado deve R$ 34 milhões à prefeitura neste setor. Por que não fazer um ajuste de contas? Porto Alegre paga todos os meses a dívida de energia elétrica. Por que eles (o estado) não pagam a da saúde?

A senhora fala em ''falsos dilemas'' na cidade. Poderia dar exemplos.

Manuela
- Inauguramos o Trensurb na década de 1980. Nesse período, os prefeitos das administrações do PT diziam que não precisaríamos de trem na cidade. Em 1937, o prefeito Loureiro da Silva dizia que as vias estruturantes que estavam construindo durariam 30 anos. Depois, a partir de 1967, precisaríamos de um trem subterrâneo. Na década de 80, inauguramos o metrô e os corredores de ônibus. Éramos referência. O que vivemos depois disso: precisamos de mais corredores de ônibus ou do metrô dentro da cidade? Não fizemos nada, precisamos dos dois.

Isso também acontece na segurança pública, a discussão repetitiva sobre falsos dilemas?

Manuela
- Quantas vezes se assistiu a o debate, se precisamos incluir mais creches ou de guarda municipal na rua? Precisamos dos dois. De creche para nossas crianças e a guarda municipal nos parques e praças. Então, são falsos dilemas concretos.

E na educação?

Manuela
- Ficamos muito tempo discutindo se o problema era ciclo ou ensino seriado. Há um consenso entre os administradores do país de que ciclo é melhor, porque combate o primeiro problema, que é a evasão escolar. Mas ninguém disse que, porque é ciclo, não precisa ter qualidade. Temos excelentes professores e um índice muito ruim. Por que não discutir como fazer a inclusão digital? Então, falamos de falsos dilemas. A população não pode ser usada para nutrir disputa política. Esse é o principal erro.

Quais suas credenciais para assumir a prefeitura?

Manuela
- A eficiência dos meus mandatos. Como vereadora, apresentei e aprovei inúmeros projetos de lei, a meia-entrada é o maior deles. Fui a parlamentar que mais incluiu emendas ao orçamento, mesmo sendo de oposição ao governo José Fogaça. Em um ano e meio de mandato na Câmara dos Deputados, concluí a votação do meu principal projeto, que altera a lei dos estágios, de 1977. Isso mexe com a vida de milhões de brasileiros. Aprovei esses projetos por consenso porque dialoguei exaustivamente, ouvi deputados, estudantes, empresários e transformei aquilo em um projeto de todos os partidos, melhor do que a minha idéia original. Isso significa eficiência e capacidade de dialogar. Isso me credencia. E credencia a mim e ao meu partido o fato de termos a maior aliança nessa eleição, construída de forma independente.

Sua coligação tem sete partidos. Em um eventual segundo turno, admite buscar o apoio de mais siglas?

Manuela
- Nossa candidatura é a única em que não houve debate sobre loteamento de cargos. Alguns nos ofereceram, para fechar aliança, pagamento de campanha de vereador; outros prometeram cargos na prefeitura e até espaços nos três níveis de governo. Resistimos a isso e construímos uma candidatura independente. Nosso diálogo no segundo turno vai ser o mesmo. Fechamos com o PSB e com o PR sem eles terem o vice. Nem o meu partido terá toda prefeitura, nem criaremos várias subprefeituras dentro das secretarias, como acontece hoje. Dialogaremos para ter as melhores pessoas em cada área.

O que pesou para consolidar essa coligação com o PPS de vice? Muitos não entenderam essa aliança.

Manuela
- Não acho que muita gente questione isso (a aliança com o PPS), só alguns formadores de opinião e partidos que tentaram coligar e não conseguiram. Fizemos uma aliança com base em um programa. Temos uma tradição de partidos que não refletem a sociedade de Porto Alegre, que é democrática. Nossos partidos só falam e não escutam. Construímos uma aliança ouvindo. Podemos discutir a participação do PPS e do PCdoB há vinte anos, não negamos nossa história, mas estamos em 2008 e não em 1994. Temos de olhar para a frente, porque camarão que dorme, a onda leva. Política é olhar para frente e dar soluções para o futuro. A população quer isso. Erros e acertos todos temos. Saber reconhecer erros e superar o passado é meritório, seja na vida privada, seja em uma aliança para administrar Porto Alegre.

E o projeto de criar uma Secretaria de Desenvolvimento?

Manuela
- A Secretaria de Desenvolvimento é para fazer com que Porto Alegre volte a ser endereço de investimentos. A administração de Porto Alegre não garantiu nem sequer a energia elétrica do Cientec, que é um parque tecnológico. Nessa secretaria vamos concentrar os procedimentos. Ali, o cidadão sabe onde começa e onde termina o seu investimento. Queremos consolidar Porto Alegre como a capital tecnológica do Mercosul.

Como será feito isso?

Manuela
- Criaremos o ISS tecnológico, que é a redução para quem tem como meta investir na cidade. Vamos usar a nossa capacidade de recuperar áreas degradadas, como é o 4º Distrito, para atrair empresas de tecnologia, com meta de produtividade e geração de empregos. Temos a proposta do ISS verde, para empresas que adotarem práticas ambientalmente corretas, como o uso de energia solar e o reaproveitamento da água da chuva. Essas empresas terão desconto. Da mesma forma, será usado o IPTU verde. Se o edifício tiver práticas ambientalmente corretas que nos ajudem a cuidar da cidade, também terá redução do seu IPTU.

Uma das maneiras de induzir o desenvolvimento é o Plano Diretor. Qual sua avaliação sobre essa lei?

Manuela
- O Plano Diretor tem dois lados. Um é a normatização, que trata da altura do edifício, se tem sacada ou não. Debatemos mais a normatização e menos a indução do desenvolvimento. Pensamos pouco como recuperar as nossas áreas degradadas, os espaços em que queremos ter os parques tecnológicos, os mecanismos que a prefeitura vai utilizar para garantir a consolidação do pólo de saúde na cidade. A prefeitura foi muito pouco ousada, talvez por não ter um projeto claro de indução de desenvolvimento. Não há uma normatização sobre como trataremos as áreas degradadas. Então, precisamos reencontrar esse equilíbrio, uma cidade justa e funcional, que seja pensada e que consiga prever a demanda de amanhã.

A Câmara Municipal não vai concluir a revisão do Plano Diretor neste ano. A senhora pretende retirar o projeto para fazer alterações?

Manuela
- Acho que sim, não tenho opinião fechada sobre isso.

A prefeitura enviou um projeto reduzindo as alturas de prédios, porque há uma queixa em diversos bairros. A parte do projeto que trata da redução de alturas será mantida?

Manuela
- Cada parte da cidade é uma área. Temos as áreas de interesse cultural, bairros que são tradicionais da cidade, que se organizam a partir da moradia de baixa estatura. Mas existem outras áreas que podem ser urbanizadas, onde a altura pode ser distinta. Inclusive, para descentralizar a cidade, isso precisa ser feito.

Como avalia a situação financeira da prefeitura?

Manuela
- O orçamento de Porto Alegre está bem situado entre as capitais. Mas temos problemas de gestão. Não disputamos investimentos em Brasília. É obrigação do governo federal liberar recursos para os municípios. E os projetos de qualquer partido que administre qualquer cidade recebem recursos. É só ver que São Paulo, administrada pelo principal adversário (José Serra) do presidente, nunca recebeu tantos recursos na vida. Então, Porto Alegre não recebe recursos porque não tínhamos projetos. Não tínhamos projetos para o metrô da cidade. Não temos uma central de projetos na prefeitura. Disputamos muito poucos investimentos do PAC. Ano que vem teremos o PAC da mobilidade urbana, que dialoga com a cidade, que será uma das sedes da Copa de 2014. Qual o esforço feito pela prefeitura para sediarmos a Copa?

Como tirar proveito da Copa de 2014 para implementar o metrô e resolver o problema da circulação?

Manuela
- Temos que disputar o metrô, mas também saber que o metrô sozinho não resolve o problema. Não podemos vender a ilusão para a cidade de que esse metrô, que já vem atrasado, vai resolver o problema que enfrentamos hoje. Ele nos ajuda a resolver parte dos problemas, se estiver integrado com outras formas de transporte. Um metrô que dialogue com um sistema racional de ônibus, que por sua vez, dialogue de maneira inteligente com as ciclovias. Não adianta botar uma ciclovia se não tiver ônibus com suporte para acoplar a bicicleta, porque as pessoas podem não ir ao trabalho de bicicleta, mas podem querer voltar. Então, tem que integrar. O metrô faz parte de um sistema integrado de soluções para o trânsito. Independentemente disso, precisamos de algumas obras. Nossa perimetral foi pensada no segundo mandato de Loureiro da Silva. Temos de pensar em como fazer com que as nossas linhas circulem no Centro, que deve ser um lugar de convívio das pessoas. Não existe mágica, existem soluções integradas e novas para problemas que são antigos. E tenho muita dificuldade de acreditar que quem não resolveu vai resolver agora. Por isso, sou candidata à prefeita.



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