por Luciano Rezende*
O Congresso da União Estadual dos Estudantes de Minas Gerais vai ser realizado na Universidade Federal de Viçosa. É a primeira vez que a cidade de Arthur Bernardes receberá o evento.
A Estrada vai além do que se vê!
O Congresso da União Estadual dos Estudantes de Minas Gerais vai ser realizado na Universidade Federal de Viçosa. É a primeira vez que a cidade de Arthur Bernardes receberá o evento.
E ocorrerá justamente dez anos após um acontecimento que ficou marcado na história do movimento estudantil local com desdobramentos nacionais: a greve estudantil de 99, como ficou conhecida.
Importante contextualizar aquele momento. Em 1999 os estudantes em todo o país arrostavam contra a implantação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), resistiam ao desmonte da universidade e às “privatarias”, pugnavam pela abertura de concursos para contratação de professores e reajustes dos salários e bolsas, viviam inseguros ante um calendário escolar instável em decorrência das constantes greves (por sinal, todas muito justas) dos docentes e técnico-administrativos, condenavam o Provão, clamavam pela manutenção da assistência estudantil, entre tantas outras pelejas para atenuar a ofensiva neoliberal em curso com FHC à frente.
Reflexo do que se passava no país, muitas reitorias eleitas pelo voto não paritário, através de uma esdrúxula lista tríplice, viviam em consonância com o receituário do Ministério da Educação. Se curvavam aos seus ditames. Uma combinação extremamente nociva para toda comunidade universitária da época: um MEC reacionário e autoritário com reitorias submissas e coniventes.
No caso específico da UFV o estopim se deu quando a Administração Superior resolveu, unilateralmente, aumentar os valores cobrados pela refeição no Restaurante Universitário em 40% e ainda obrigar os bolsistas carentes a trabalharem e cobrarem pela refeição daqueles que tinham bolsa trabalho. Ou seja, perda de direitos e um início de privatização da universidade que já vinha se dando com as cobranças de taxas e matrículas (as mais caras do Brasil), como bem alertava a UNE.
Cerrando fileiras contra esta decisão arbitrária local e ao conjunto da política neoliberal de FHC, o DCE da UFV mobilizou a maioria absoluta dos estudantes numa paralisação que durou 34 dias e mostrou para muita gente o estado de espírito daqueles que estavam decididos a marcharem até as últimas conseqüências e barrar a privatização da universidade pública. Nesta luta, destacaram-se dezenas de heróis anônimos que foram implacavelmente perseguidos dentro e fora da UFV. A Reitoria não se resignou em criminalizar o DCE que conduziu uma legítima e pacífica mobilização, onde os únicos espaços ocupados foram as praças e as ruas e apenas o que foi quebrado consistiu-se nos grilhões do atraso e do conservadorismo, mas, não satisfeita, partiu para uma onda de processos disciplinares, multas e até prisões como a que ocorreu com o presidente do DCE, Frederico Nunes Borges de Lima.
Outros são processados até hoje no âmbito da Polícia Federal, como são os casos dos ex-presidentes do DCE, Moisés Silveira Lobão (professor da Universidade Federal do Acre e doutorando na USP) e de Rodrigo Gonçalves (promotor na cidade de Betim).
Foi um episódio entre tantos outros pelo Brasil afora que marcou época, retratando bem o período FHC-Paulo Renato.
Recordar este tempo recente é importante para avaliar a conjuntura presente. A universidade hoje dobrou o número de matriculados. Criou cursos e programas de pós-graduação novos. Contratou uma grande leva de professores doutores. Reajustou (CNPq e Capes) as bolsas de iniciação científica, mestrado e doutorado. Contemplou os técnico-administrativos em uma série de reivindicações históricas, além de reajustar seus salários congelados. Promove programas de intercâmbio atendendo a demanda da mobilidade estudantil. De novo tem verbas específicas para a assistência estudantil, entre tantas outras bandeiras reivindicativas que ainda estão em curso. Porém, há uma questão em especial que merece ser chamada a atenção: a abertura democrática conferida, agora em consonância com o governo Lula.
A nova reitoria da UFV, como tantas outras na atualidade, foi eleita pelo voto paritário onde os estudantes foram os principais protagonistas. Respira-se mais liberdade. Acabaram-se as taxas. Foi construído um novo Restaurante Universitário. Ouvem-se as reivindicações estudantis. Criou-se o Conselho Comunitário....
Este será o cenário do Congresso da UEE que contará com toda a estrutura necessária cedida pela universidade e prefeitura locais, bem diferente do Coneb da UNE de 1998.
Assim caminha a humanidade. Nenhuma conquista foi fortuita ou se deu ao acaso. Não fosse a dedicação de muitos (as), o caminho até esse momento não teria sido pavimentado e se não for a abnegação de tantos outros na atualidade não será possível continuar essa importante obra, pois o tempo não para. Esse era, inclusive, o nome da gestão do DCE que conduziu a vitoriosa greve de 99.
A todos eles, que por serem muitos, omito seus nomes, rendo minhas homenagens por ocasião do 41° Congresso da UEE.
*Luciano Rezende, Engenheiro Agrônomo, mestre em Entomologia e doutorando em Genética.
Importante contextualizar aquele momento. Em 1999 os estudantes em todo o país arrostavam contra a implantação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), resistiam ao desmonte da universidade e às “privatarias”, pugnavam pela abertura de concursos para contratação de professores e reajustes dos salários e bolsas, viviam inseguros ante um calendário escolar instável em decorrência das constantes greves (por sinal, todas muito justas) dos docentes e técnico-administrativos, condenavam o Provão, clamavam pela manutenção da assistência estudantil, entre tantas outras pelejas para atenuar a ofensiva neoliberal em curso com FHC à frente.
Reflexo do que se passava no país, muitas reitorias eleitas pelo voto não paritário, através de uma esdrúxula lista tríplice, viviam em consonância com o receituário do Ministério da Educação. Se curvavam aos seus ditames. Uma combinação extremamente nociva para toda comunidade universitária da época: um MEC reacionário e autoritário com reitorias submissas e coniventes.
No caso específico da UFV o estopim se deu quando a Administração Superior resolveu, unilateralmente, aumentar os valores cobrados pela refeição no Restaurante Universitário em 40% e ainda obrigar os bolsistas carentes a trabalharem e cobrarem pela refeição daqueles que tinham bolsa trabalho. Ou seja, perda de direitos e um início de privatização da universidade que já vinha se dando com as cobranças de taxas e matrículas (as mais caras do Brasil), como bem alertava a UNE.
Cerrando fileiras contra esta decisão arbitrária local e ao conjunto da política neoliberal de FHC, o DCE da UFV mobilizou a maioria absoluta dos estudantes numa paralisação que durou 34 dias e mostrou para muita gente o estado de espírito daqueles que estavam decididos a marcharem até as últimas conseqüências e barrar a privatização da universidade pública. Nesta luta, destacaram-se dezenas de heróis anônimos que foram implacavelmente perseguidos dentro e fora da UFV. A Reitoria não se resignou em criminalizar o DCE que conduziu uma legítima e pacífica mobilização, onde os únicos espaços ocupados foram as praças e as ruas e apenas o que foi quebrado consistiu-se nos grilhões do atraso e do conservadorismo, mas, não satisfeita, partiu para uma onda de processos disciplinares, multas e até prisões como a que ocorreu com o presidente do DCE, Frederico Nunes Borges de Lima.
Outros são processados até hoje no âmbito da Polícia Federal, como são os casos dos ex-presidentes do DCE, Moisés Silveira Lobão (professor da Universidade Federal do Acre e doutorando na USP) e de Rodrigo Gonçalves (promotor na cidade de Betim).
Foi um episódio entre tantos outros pelo Brasil afora que marcou época, retratando bem o período FHC-Paulo Renato.
Recordar este tempo recente é importante para avaliar a conjuntura presente. A universidade hoje dobrou o número de matriculados. Criou cursos e programas de pós-graduação novos. Contratou uma grande leva de professores doutores. Reajustou (CNPq e Capes) as bolsas de iniciação científica, mestrado e doutorado. Contemplou os técnico-administrativos em uma série de reivindicações históricas, além de reajustar seus salários congelados. Promove programas de intercâmbio atendendo a demanda da mobilidade estudantil. De novo tem verbas específicas para a assistência estudantil, entre tantas outras bandeiras reivindicativas que ainda estão em curso. Porém, há uma questão em especial que merece ser chamada a atenção: a abertura democrática conferida, agora em consonância com o governo Lula.
A nova reitoria da UFV, como tantas outras na atualidade, foi eleita pelo voto paritário onde os estudantes foram os principais protagonistas. Respira-se mais liberdade. Acabaram-se as taxas. Foi construído um novo Restaurante Universitário. Ouvem-se as reivindicações estudantis. Criou-se o Conselho Comunitário....
Este será o cenário do Congresso da UEE que contará com toda a estrutura necessária cedida pela universidade e prefeitura locais, bem diferente do Coneb da UNE de 1998.
Assim caminha a humanidade. Nenhuma conquista foi fortuita ou se deu ao acaso. Não fosse a dedicação de muitos (as), o caminho até esse momento não teria sido pavimentado e se não for a abnegação de tantos outros na atualidade não será possível continuar essa importante obra, pois o tempo não para. Esse era, inclusive, o nome da gestão do DCE que conduziu a vitoriosa greve de 99.
A todos eles, que por serem muitos, omito seus nomes, rendo minhas homenagens por ocasião do 41° Congresso da UEE.
*Luciano Rezende, Engenheiro Agrônomo, mestre em Entomologia e doutorando em Genética.
A Estrada vai além do que se vê!
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