quinta-feira, 25 de junho de 2009

Florestan Fernandes

Considerações acerca do desenvolvimento da Sociologia no Brasil e da importância de Florestan Fernandes

por Danniel Coelho*


A história do desenvolvimento do pensamento sociológico no Brasil, que passou por diversos momentos e foi abordada sob diversos enfoques, tem sua origem no período chamado de “pré-científico” onde a produção de obras que objetivavam analisar a sociedade eram feitas por pessoas sem especialização acadêmica na área, e sem método, que são mais de abordagem histórica e literária que sociológica, o que de forma alguma deve ser fator de pormenorização da importância e do pioneirismo das mesmas. Nesse período ressalta-se a obra “Os Sertões” de Euclides da Cunha, cujo tema é o conflito na região de Canudos. Todavia, tão importante quanto a análise do conflito, é a busca da compreensão do sertão e do sertanejo.

A partir das obras de Oliveira Viana, “Populações Meridionais no Brasil” e “Evolução do Povo Brasileiro” e, principalmente, do clássico de Gilberto Freyre “Casa Grande e Senzala” que o viés sociológico torna-se preponderante nas análises, esta última obra é especialmente voltada para um estudo otimista das relações inter-raciais no Brasil.

No momento seguinte, no começo da década de 1930, com a criação da escola de sociologia da Universidade de São Paulo, inicia-se o momento da expansão da chamada “sociologia cientifica” onde se encontra a proliferação de ensaios e estudos altamente embasados e munidos do objetivo de se compreender o Brasil. Nessa escola encontram-se os principais autores da Sociologia no país, e dentre eles destaca-se Florestan Fernandes, ingresso já no começo da década seguinte.

Florestan Fernandes, nascido em São Paulo na década de 1920, vindo das classes operárias, cuja mãe trabalhava de lavadeira, optou pelas Ciências Sociais devido ao curso ser noturno, o que o possibilitava trabalhar para alcançar o seu sustento. Bacharelou-se em Ciências Sociais no ano de 1943 e, acadêmico brilhante que era, com 10 anos já havia percorrido toda a carreira na USP.

Em um primeiro momento de sua carreira, dedica seus estudos a um viés mais antropológico buscando, com sua tese de mestrado, compreender, através de dados secundários e terciários, a “organização social dos Tupinambás”, com uma dissertação de mestrado de mesmo nome, e com a tese de doutorado batizada de “A função social da Guerra na sociedade Tupinambá”. Todavia, não seria com estudos dessa natureza que ele iria se consagrar como um dos maiores sociólogos do “terceiro mundo”, como o qualificou Willian P. Morris no International Journal of Sociology (1981).

Florestan, a partir de 1952 quando assume a cadeira de Sociologia 1 na USP, subordina o seu labor intelectual à compreensão dos estudos sociais dentro dos padrões científicos, dando início a organização de um grupo de colaboradores, dentre eles, Otavio Ianni e Fernando Henrique Cardoso, originando a “Escola de Sociologia da USP” ou “Escola de Sociologia Florestan Fernandes”, que tinha como finalidade o desenvolvimento de pesquisas nas áreas de relações no Brasil, desenvolvimento da empresa industrial em São Paulo e na análise sociológica do desenvolvimento do Brasil.

Outro tema que em um determinado momento domina as preocupações intelectuais de Florestan é o desenvolvimento da revolução burguesa no Brasil, que ele afirma que em condições de subdesenvolvimento se caracteriza por ser antidemocrática e antipopular.

Após o seu retorno do período de exílio, fruto do momento ditatorial vigente no Brasil, Florestan se dedica a colaboração com os movimentos sociais emergentes, o que influencia sobremaneira o seu trabalho acadêmico, especialmente com o trabalho “Em busca de uma sociologia critica e militante” onde explicita a crítica permanente da dominação burguesa no Brasil e renova suas esperanças no socialismo. A partir de então a crítica ao caráter elitista e antipopular da transição política no país alcança papel central em suas obras.

E intensifica-se principalmente a partir de 1986, quando aceita o convite do Partido dos Trabalhadores para concorrer a uma cadeira no parlamento brasileiro, sendo eleito deputado federal constituinte e tendo uma atuação voltada à construção das condições de emancipação da classe trabalhadora, tendo como eixo central de sua atuação parlamentar a construção de uma educação verdadeiramente popular e democrática.

Florestan Fernandes deixou a vida em 10 de agosto de 1995, deixando também uma extensa obra, fundamental para a compreensão da sociedade brasileira e, mais do que isso, deixando um legado através de seus exemplos que nos demonstra a justeza da 11 ª tese de Marx sobre Feuerbach: “os filósofos tem apenas interpretado o mundo de diversas maneiras; a questão porém é transformá-lo”.


*Acadêmico do 5º período de Ciências Sociais da Unimontes, membro da Direção Estadual da UJS-MG e do Comitê Municipal do PCdoB em Montes Claros.


A Estrada vai além do que se vê!

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