quinta-feira, 18 de junho de 2009

Comentário que vale uma postagem

Wassily Kandinsky (1866-1944), Rua Murnau com Mulher, 1908.

O meu grande amigo Eder Borborema, comentando seu próprio artigo, publicado aqui e no Bloco do Zeder, teceu mais opiniões que não podem ficar escondidas no link de comentários abaixo, vale a postagem e a leitura.

Cultura política alternativa, novos desafios da política e a esquerda


Prezado Ramon,

Fico muito honrado e não imaginava a publicação em um site tão importante como o seu, certamente eu me estenderia mais se soubesse e posso fazer aqui algumas considerações que fazem parte do contexto à qual analisamos.

O presente texto é um recorte histórico temporal no qual identifiquei o não-alinhamento do processo histórico e sobre ele certamente tem a ver com o avanço das opiniões da esquerda, sobretudo a brasileira que é muito observada e até admirada pelo mundo.

A esquerda mundial vê agora nosso sub-continente como referência positiva, como experiência bem sucedida de acúmulo de forças e mobilização dos movimentos sociais pela conquista de direitos. E mais ainda, agora a esquerda latino-americana e brasileira é observada de perto após a recente baixa sofrida na Europa, enquanto aqui continuamos na curva crescente.

O presente texto também faz parte de uma série de estudos que iniciei há relativamente pouco tempo sobre uma nova discussão de cultura política alternativa aos atuais modos, meios e modelos implementados até então.

Se estamos em processo de avanço das conquistas sociais é justo que os velhos modelos sejam contestados. Só não é um processo natural porque é cultural, mas o seu crescimento é vegetativo.

Um importante elemento que considero ter sido muito injustiçado na formação do sistema político arcaico é o aspecto antropológico. Na própria formação do sistema republicano brasileiro, e outros, é clara a disposição sistematizada para a manutenção do poder entre as elites.

Neste sentido, a maioria dos estudos políticos que encontramos no topo da referência acadêmica conservadora - nem preciso falar aqui das notícias de grande parte da imprensa que refletem os interesses dos donos dos meios de comunicação, análises rasas sobre temas complexos - debruça diretamente sobre a arte do poder (lembra do livro do FHC? Que piada..) em si, mas pouco sobre as especificidades da cultura popular na qual este poder recai. Desta forma, formou uma injustiça histórica que configurou uma política longe dos aspectos culturais, pela própria característica do poder centralizado, volto a dizer.

Ora, este aspecto pode ser melhor observado pelos métodos antropológicos já existentes na literatura, muito avançados no Brasil, mas que no entanto infelizmente é compreendido muito longe dos espaços de discussão política e econômica.

Outro aspecto é a análise regional, que é tão defendida por todos estatutariamente e no discurso, que é comumente subestimada. Aqui o erro, e as opiniões políticas internacionais do grupo envolvido (cultura regional) às vezes pouco conta na análise dos interessados (na notícia) de uma outra cultura, em outro espaço totalmente diverso (capitalismo ocidental) e tomando a análise daquele campus desconsiderando o habitus. Forma assim, uma opinião preconceituosa e carregada de valores diferentes dos que motivaram os sujeitos analisados em um outro contexto.

Não precisa dizer que o modelo evolucionista de interpretação da cultura é um preconceito rechaçado há muito tempo no debate antropológico, mas que por interesses muito fortes dos que formularam o sistema de poder, este preconceito incrivelmente ainda persiste e distancia grande parte do jornalismo político e econômico da realidade na qual a parte mais fraca vive.

Daí talvez tenha influenciado a rejeição de grande parte da população com a política, sendo a informação contaminada pelos donos dos meios de comunicação, os burgueses do futuro.

Uma única injustiça que posso ter cometido se observado este texto descontextualizado, e aqui o trocadilho não foi intencional, é que o presidente Chavez tem feito grandes avanços sociais e contribuído para o êxito das esquerdas latino-americanas, mas que governar é um ato complexo e, como tantos, pontualmente qualquer governante pode ser sim criticado, pode sim, ser não-seguido. Sim, a política moderna é cada vez mais específica e diversa e há, sim, cada vez mais a necessidade de espaço para a formação do pensamento autônomo, e as instituições que não se adaptarem serão fatalmente ultrapassadas ou, na melhor das hipóteses, isoladas.

A crítica também deve ser encarada como algo natural para os que pretendem melhorar cada vez mais. Ora, se o sistema é cultural é humano, e como os homens são passíveis de erro, cabe aos que se interessam tentar melhorar cada vez mais, e a outros fazer o que querem. O que não pode é uma verdade única sem o amplo debate e a análise dialética, para a construção da democracia e dos meios de alcançar o bem comum.

Não é relativismo, muito pelo contrário. Procuro atualizar a partir do avanço estruturalista considerando as linhas gerais do processo histórico com as especificidades regionais, sobretudo da cultura popular. Enfim, aprende para a política o que a antropologia já sabe há muito tempo.

Mas como se sabe, os políticos é que governam os antropólogos e não o contrário.

Obrigado! :)

SAUDAÇÕES COMUNISTAS


Valeu Eder!


A Estrada vai além do que se vê!

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