quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Ciência, Trabalho e Sociedade


A bela cidade de Pirapora, situada à margem do rio São Francisco, sediou o V Encontro de Psicólogos de Pirapora, Buritizeiro e Várzea da Palma, integrado ao IV Psicologia nas Gerais, que neste ano tem como subtema: Ciência, Trabalho e Sociedade.

As atividades, promovidas pelo Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais e pela Prefeitura Municipal de Pirapora, tiveram início no dia 21 de agosto e irão até o dia 27 do mesmo mês. Visitas de estudantes de Psicologia aos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) de Pirapora e Buritizeiro, apresentações teatrais em praça pública, exposições dialogadas, oficinas e debates, compõem a programação do evento nas cidades ribeirinhas, enfocando os vários campos de atuação dos psicólogos na região.

A solenidade de abertura da Semana do Psicólogo, prestigiada por dezenas de psicólogos, estudantes e profissionais de outras áreas, ocorreu na noite de 21 de agosto no Centro de Convenções de Pirapora com a mesa redonda “Psicologia: formação, prática profissional e exercício da cidadania”. Após a apresentação artística da Escola Ballet Cia. Pirapora, a psicóloga Magda Mota Serai Edine, coordenadora do encontro, saudou a todos os presentes ressaltando a importância do Encontro e do debate daquela noite para a valorização e crescimento da profissão.



A demanda por psicólogos cresce
A primeira a apresentar suas considerações foi a psicóloga Simone Monteiro Ribeiro, conselheira do CRP, professora e coordenadora do curso de Psicologia das Faculdades Pitágoras em Montes Claros, que fez um apanhado histórico da construção da Psicologia enquanto campo de saber e profissão. Lembrou que durante os séculos XVIII e XIX, a Psicologia tratava o “Eu” dicotomizado em relação ao outro, numa subjetividade privatizada e distanciada do contexto, abordagem da qual ainda se encontram resquícios nos dias de hoje. Somente a partir da década de 1980, o psicólogo realmente passa a discutir o seu papel social, se politiza, se engaja e se torna mais participativo. Com a promulgação da Constituição Brasileira em 1988, fruto das lutas protagonizadas pelos psicólogos, várias políticas públicas e ações são deflagradas, aumentando o campo de atuação dos mesmos, especialmente nas áreas de saúde, educação e trabalho. A demanda por psicólogos nas políticas públicas é cada vez maior, já que os mesmos são chamados a atuar diretamente, principalmente no Sistema Único de Saúde (SUS). Com o surgimento desses novos espaços, como os Centros de Atenção Psicossociais, cria-se a necessidade da formação ser repensada, revendo modelos hegemônicos até então e reformulando o saber e o fazer.

Em 2004, com o advento das novas diretrizes curriculares nacionais para os cursos de graduação em Psicologia, um desdobramento da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) promulgada em 1996, a formação de profissionais dá um grande salto qualitativo, com destaque para a desconstrução do currículo mínimo através da flexibilização curricular; os estágios básicos desde o início da formação, rompendo com a dicotomia entre teoria e prática; a formação generalista; e a possibilidade de trabalhar as competências e habilidades em diferentes contextos.

A professora Simone também ressaltou que os cursos de graduação em Psicologia triplicaram em Minas Gerais de 2000 até hoje, chegando a cerca de 50 no estado. Alguns desses cursos estão em condições irregulares de funcionamento, o que leva a reflexão sobre a relação entre a qualidade da formação e a massificação. Segundo a professora, “o CRP vem trabalhando junto às instituições de ensino, realizando eventos em parceria, fazendo visitas, dando orientações técnicas, divulgando as políticas do CRP e sua preocupação social, se aproximando dos professores. Inclusive, dentro da programação do Psicologia nas Gerais em Montes Claros, teremos um encontro, a partir do CREPOP (Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas), com os coordenadores e professores dos cursos de Psicologia. São essas nossas ações, já que o CRP não tem o poder de regular a abertura de cursos, buscamos contribuir no aumento da qualidade da formação dos futuros profissionais”.


Promover e exercer a cidadania
Logo a seguir, a psicóloga Aparecida Rosângela Silveira, professora e coordenadora do curso de Psicologia da Faculdade de Saúde Ibituruna (FASI) em Montes Claros, discorreu sobre “Psicologia e o exercício da cidadania”. “Qual o movimento que um psicólogo ou estudante de Psicologia faz para promover a cidadania?”, foi a questão que iniciou sua exposição, instigando o público presente. A professora ressaltou a importância dos movimentos sociais para a promoção da democracia e da participação popular e a importância e responsabilidade dos psicólogos em contribuir intervindo objetivamente nesta seara.

“Durante um tempo tivemos mais práticas solitárias do que solidárias”, ressaltou a debatedora, “a Psicologia foi extremamente excludente, segregatória e elitista, temos uma dívida social que só começou a ser paga há cerca de duas décadas. Ainda temos muito a fazer.”

A professora Aparecida também destacou os novos canais de participação popular, como os Conselhos, as instituições filantrópicas e as organizações não-governamentais (ONGs), canais que devem ser utilizados pelos profissionais para o entendimento, a discussão, a elaboração e a execução das políticas públicas, além de aprimorar uma postura ativa de cidadania nos psicólogos.


Formação além das salas de aula
O último debatedor da noite foi o psicólogo Antônio Ângelo Favaro Coppe, professor e coordenador da Pós-Graduação em Psicologia Hospitalar da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas) – Santa Casa de Belo Horizonte. O professor apresentou os aspectos que considera mais importantes para a formação cidadã do psicólogo. O conhecimento da realidade social do mundo produtivo e das relações sociais é o ponto de partida para tal formação, “devemos ir além da sala de aula, a escola não dá a formação pessoal necessária” afirmou. Quanto à qualidade dos cursos, o compromisso das instituições de ensino com o ensino, a pesquisa e a extensão são fundamentais e, infelizmente, não ocorrem nas escolas caça-níqueis. Outra questão abordada foi a saúde mental dos estudantes, “segundo um levantamento feito pelo Conselho Federal de Psicologia, cerca de 27% dos acadêmicos das IFES (Instituições Federais de Ensino Superior) estavam com problemas de saúde mental. E quem que dá suporte para esses alunos? São necessários profissionais nas universidades para fazer o acompanhamento destes alunos”.

Estimular o empoderamento também é uma das atribuições do psicólogo segundo o professor Antônio, “não há revolução maior do que ajudar as pessoas a exercer o seu próprio poder”. Quanto às qualidades necessárias ao exercício da profissão, ele afirmou que “são apenas três: humildade, paciência e paciência”. “A construção da cidadania se dá no cotidiano, aliando a formação pessoal e acadêmica com a prática” finalizou o professor.

Durante o debate surgiu a ideia de criar uma associação dos psicólogos da região para fortalecer a representação profissional. Para a professora Aparecida, “com o advento da associação, as reivindicações e pressões junto ao poder público teriam muito mais visibilidade, o que contribuiria significativamente para a melhoria da qualidade dos serviços públicos prestados a população”.

Oportunidades
O prefeito de Buritizeiro, padre Salvador Fernandes, definiu o encontro como um espaço privilegiado onde “vamos quebrando os mitos a respeito da Psicologia, entendendo-a como o resgate do ser humano e a sua inserção no seio da sociedade”.

Para a acadêmica do 4º período de Psicologia da FASI, Laura Câmara, “o evento foi importante porque deixou claro que a Psicologia tem um campo de atuação amplo, depende de cada um correr atrás de uma formação realmente mais apurada, não faltam oportunidades para quem tem a intenção de se um bom profissional e trabalhar com ética”.

Texto e fotos: Ramon Fonseca


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