Reproduzimos artigo do jornalista Eduardo Brasil sobre os fatídicos acontecimentos de ontem, o mesmo pode ser encontrado n'O Norte.net
Polícia neles!
Estudantes com escoriações pelo corpo. Atingidos por balas de borracha. Correndo de cachorros. Respirando gases tóxicos. Sendo presos. Algemados. Sangrando.
Que cenário... Ele nos remonta aos dos idos sessenta, do século passado, quando as causas sociais abraçadas pelos estudantes eram recebidas pela ditadura militar como caso de polícia.
E o pau comia. Gente, como Edson Luis, até morria.
O cenário narrado acima e os seus atores, estudantes e polícia, foi o que restou da manifestação de ontem, que se pretendia pacífica, dos estudantes de Montes Claros na sua luta pela implantação do meio-passe no transporte coletivo urbano - duramente repreendida pela polícia militar que impediu a entrada dos manifestantes no prédio da prefeitura, onde pretendiam se reunir com o executivo que, aliás, nem estava no seu local de trabalho.
E olha que, naquelas quadras dos sessenta (pau neles), a luta dos estudantes empunhava questões mais complexas que uma simples cobrança de implantação de um meio-passe nos lotações de uma cidade interiorana. A luta era nacional, com temas mais perigosos para o sistema imposto à mira de armas, como reforma universitária, de base, agrária, fim da exploração imperialista, da evasão de divisas para o exterior, de defesa do processo de estatização de empresas multinacionais e de instituição de um regime socialista nos moldes de Cuba.
Meio-passe? O que é isso, companheiro?
Dá para imaginar como o executivo municipal agiria naqueles idos, com as pecaminosas prerrogativas dadas às autoridades da época (tinha até pena de morte, prisão perpétua para subversivos), considerando o que ele faz hoje, abusando apenas dos resquícios que os tempos de chumbo deixaram para impedir que o jovem tenha condições de estudar.
O que se viu no prédio da prefeitura, ontem, enfim, foi uma praça de guerra, como bem definiu Lipa Xavier, principal baluarte do meio-passe. Ele chegou a atribuir à tropa de choque da PM toda a responsabilidade pela transformação da manifestação pacífica em confronto. Acusou os militares de recorrerem até mesmo à fabricação de provas contra os estudantes, como se fazia nos anos de exceção, observando que em meio à truculência com que trataram o manifestante podiam ser flagrados carregando pedras colhidas nas escadarias externas do prédio público atiradas em meio ao tumulto, para depositá-las no saguão da prefeitura como se tivessem sido arremessadas pelos estudantes, numa tentativa de destruir o patrimônio público. A polícia retruca e diz que atuou com base nas suas operações táticas, utilizando o rigor necessário para reagir à altura dos atos estudantis.
O confronto, além do caos, nada acrescentou à questão do meio-passe, mesmo que o assunto, ainda na noite de ontem, tenha sido debatido em audiência pública realizada pela câmara municipal na Unimontes, entidade que, através do seu Diretório central fez coro ao protesto pela instituição do benefício estudantil. Aliás, a participação de entidades idôneas na manifestação chamou a atenção: por lá, eram vistos representantes do Sindicato da rede particular de ensino, da União Brasileira dos EStudantes Secundaristas, da União Colegial de Minas Gerais, do Sindicato estadual dos professores e da União Nacional dos Estudantes. Não exatamente a atenção do executivo, voltada, então, para outros assuntos, sabe-se lá quais.
O fato é que Athos Avelino não deu a mínima para as representações que, outrora, demagogicamente, sabe-se hoje, fez questão de reverenciar dos palanques eleitorais.
Apesar da repressão, os estudantes não dão a luta do meio-passe por vencida. Sabem que o momento para que ele seja implantado é agora, neste instante que antecede o período das eleições municipais. Insistirão. Com novas manifestações, se preciso for. Embora saibam que o trunfo que a passagem confere, quando o voto passa a ser a principal arma do povo reprimido, hoje, não valeria tanto, uma vez que o prefeito já não precisaria chamar a polícia, soltar os cachorros nos estudantes para confirmar que, deles, jamais obterá um voto.
A Estrada vai além do que se vê!
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